Para muitas pessoas, a espiritualidade é uma experiência dos domínios da alma e da privacidade. A modernidade conseguiu colocar muitos cristãos em um estado de isolacionismo cultural. E por esta causa, o cristianismo foi sendo excluído da esfera pública, da academia, do trabalho e do mundo chamado “secular”.
A juventude cristã nasce em mundo onde o relativismo cultural e ético começa a ruir os valores considerados absolutos pelo cristianismo. O consumismo e a competição mercadológica são os ídolos da presente era, e massas são catequizadas nesta nova religião que alega mentirosamente uma “neutralidade” em termos de fé.
Definitivamente, sem um cristianismo robusto e uma visão de mundo que parta de uma fé sólida na centralidade de Cristo e seu Evangelho, nossa geração irá naufragar e acabará por dar um tratamento idólatra ao trabalho e à atividade cultural. Irá deificar estes aspectos importantes da Criação, ao invés de submetê-los a uma crítica cristã que reconheça o Senhorio de Jesus Cristo sobre todos os aspectos da vida.
Para muita gente, o trabalho continua sendo uma atividade cultural atrelada à maldição da queda. Mas, a verdade é que o trabalho existia sim, antes da queda, e era parte do “mandato cultural” dado ao homem de “cultivar” (no original “trabalhar”) o Jardim. O que a queda produz é uma alteração da relação do homem com o trabalho, que se antes era parte integrante de sua natureza, tornou-se penoso e exaustivo.
De fato, o mesmo termo que é usado para “trabalho/cultivo” em Gênesis, é usado em outros textos ligado à atividade dos sacerdotes no Tabernáculo. O interessante, neste detalhe linguístico, é que ele evidencia que o trabalho não é só uma atividade “cultural”, mas também “cultual”. O trabalho é uma liturgia, um serviço religioso que se não for para a glória de Deus, certamente será para o louvor de um ídolo.
Os cristãos reformados sempre consideraram o “trabalho” como um meio de glorificação a Deus. A diligência, o zelo, a ética e a criatividade protestante eram virtudes tão notórias, que mereceram destaque nas investigações do sociólogo Max Weber. Tais fiéis viviam sob o princípio de que toda ação criativa deveria ser Coram Deo, ou seja, “perante Deus”, no sentido de que Deus é o supremo pastor e suprema testemunha de todos os feitos humanos. Ou seja, trabalho é um altar onde Deus é cultuado.
Antes da queda, o homem foi comissionado àquela ação cultural que glorificasse a Deus, o que em algum sentido, era parte integrante de sua condição humana. Um cristão regenerado é feitura de Deus, recriado em Jesus Cristo para “boas obras” (Ef 2.10). Isto significa que em Cristo sua condição humana é restituída e ele é reintroduzido na Criação, e assim, este homem pode voltar à prática da glorificação de Deus por meio de seu trabalho.
É urgente uma retomada da visão cristã do trabalho, que não é apenas a do labor, mas de uma atuação cultural enraizada em Cristo, admitindo-o como Senhor sobre todas as ações criativas do cristão. Sem dúvida, uma visão do trabalho nestes termos libertaria o cristão do cativeiro imposto por cosmovisões não-cristãs, e o reintroduziria como jardineiro no mundo de Deus.
Igor Miguel é teólogo, pedagogo e mestrando em língua hebraica pela USP (Universidade Estadual de São Paulo). Membro da Associação Kuyper de Estudos Transdisciplinares (AKET), professor voluntário da Escola de Teologia e Espiritualidade Cristã do L'Abri, e membro da Igreja Esperança. Autor do blog Pensar (www.teologo.org)
A juventude cristã nasce em mundo onde o relativismo cultural e ético começa a ruir os valores considerados absolutos pelo cristianismo. O consumismo e a competição mercadológica são os ídolos da presente era, e massas são catequizadas nesta nova religião que alega mentirosamente uma “neutralidade” em termos de fé.
Definitivamente, sem um cristianismo robusto e uma visão de mundo que parta de uma fé sólida na centralidade de Cristo e seu Evangelho, nossa geração irá naufragar e acabará por dar um tratamento idólatra ao trabalho e à atividade cultural. Irá deificar estes aspectos importantes da Criação, ao invés de submetê-los a uma crítica cristã que reconheça o Senhorio de Jesus Cristo sobre todos os aspectos da vida.
Para muita gente, o trabalho continua sendo uma atividade cultural atrelada à maldição da queda. Mas, a verdade é que o trabalho existia sim, antes da queda, e era parte do “mandato cultural” dado ao homem de “cultivar” (no original “trabalhar”) o Jardim. O que a queda produz é uma alteração da relação do homem com o trabalho, que se antes era parte integrante de sua natureza, tornou-se penoso e exaustivo.
De fato, o mesmo termo que é usado para “trabalho/cultivo” em Gênesis, é usado em outros textos ligado à atividade dos sacerdotes no Tabernáculo. O interessante, neste detalhe linguístico, é que ele evidencia que o trabalho não é só uma atividade “cultural”, mas também “cultual”. O trabalho é uma liturgia, um serviço religioso que se não for para a glória de Deus, certamente será para o louvor de um ídolo.
Os cristãos reformados sempre consideraram o “trabalho” como um meio de glorificação a Deus. A diligência, o zelo, a ética e a criatividade protestante eram virtudes tão notórias, que mereceram destaque nas investigações do sociólogo Max Weber. Tais fiéis viviam sob o princípio de que toda ação criativa deveria ser Coram Deo, ou seja, “perante Deus”, no sentido de que Deus é o supremo pastor e suprema testemunha de todos os feitos humanos. Ou seja, trabalho é um altar onde Deus é cultuado.
Antes da queda, o homem foi comissionado àquela ação cultural que glorificasse a Deus, o que em algum sentido, era parte integrante de sua condição humana. Um cristão regenerado é feitura de Deus, recriado em Jesus Cristo para “boas obras” (Ef 2.10). Isto significa que em Cristo sua condição humana é restituída e ele é reintroduzido na Criação, e assim, este homem pode voltar à prática da glorificação de Deus por meio de seu trabalho.
É urgente uma retomada da visão cristã do trabalho, que não é apenas a do labor, mas de uma atuação cultural enraizada em Cristo, admitindo-o como Senhor sobre todas as ações criativas do cristão. Sem dúvida, uma visão do trabalho nestes termos libertaria o cristão do cativeiro imposto por cosmovisões não-cristãs, e o reintroduziria como jardineiro no mundo de Deus.
Igor Miguel é teólogo, pedagogo e mestrando em língua hebraica pela USP (Universidade Estadual de São Paulo). Membro da Associação Kuyper de Estudos Transdisciplinares (AKET), professor voluntário da Escola de Teologia e Espiritualidade Cristã do L'Abri, e membro da Igreja Esperança. Autor do blog Pensar (www.teologo.org)
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