"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."

Agostinho de Hipona



segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Tomando o Reino por Violência

Prof. Herman Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1



"E desde os dias de João, o Batista, até agora, o reino dos céus é tomado a força, e os violentos o tomam de assalto" (Mt. 11:12, ARA).2




Sobre que tipo de violência e força lemos aqui? Isso significa que um crente deveria fazer algum esforço para entrar no reino de Deus? E como isso se ajusta com a salvação pela fé somente, através da graça somente?


A figura que Jesus usa no texto citado acima é muito poderosa. Ele está falando nesse discurso de João o Batista, seu precursor. João ocupou um lugar único na nobre companhia dos profetas. Ele foi o último dos profetas do Antigo Testamento e situou-se nos dois testamentos. Ele estava, por assim dizer, com um pé na antiga dispensação e outro na nova. Esse lugar único de João é a razão do Senhor dizer que João foi o maior de todos os profetas, sendo todavia o menor no reino dos céus maior do que ele (v. 11). Essa declaração lhe dará certa idéia da vasta diferença que aconteceu entre os dois testamentos quando o Espírito do Cristo assunto [ao céu] foi derramado em Pentecoste.


A despeito do fato de João situar-se nas duas dispensações, ele morreu na antiga dispensação e não viu o amanhecer do novo dia começar em Pentecoste. Assim, seu status na revelação histórica do propósito de Deus é inferior àquele do "menor no reino dos céus".


Talvez para entender este lugar único que João ocupou, possamos usar a figura do reino dos céus como um palácio magnificente. Na antiga dispensação os santos podiam ver a porta para o palácio, mas não podiam passar por ela. Ela estava fechada porque Cristo, que é a "porta" (João 10:9), não tinha vindo ainda.


Contudo, nessa porta havia muitas figuras belas do reino. Essas figuras eram os tipos da antiga dispensação: os sacrifícios, o dilúvio, a libertação do Egito, a herança de Canaã, etc. Elas eram belas figuras, e os santos do Antigo Testamento podiam aprender um pouco sobre o outro lado da porta olhando para as figuras. Mas não podiam entrar!


Agora pense em João como aquele que está na frente da porta. Ao realizar o seu ministério quando apontou para Cristo como "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (João 1:29, 36), João, por assim dizer, abriu a fenda da porta. Isso capacitou os santos no que ainda era o Antigo Testamento a ver um pouco do que estava por detrás da porta. Quando viram o que estava detrás da porta, eles ficaram tão impressionados, tão estimulados, tão excitados, que, podemos dizer, atacaram a porta em sua ansiedade para entrar. Eles não podiam esperar. Tomaram o reino por violência e força. Eles não voltariam atrás.


Essa, repito, é uma figura poderosa da atração que o reino dos céus tem para os crentes. Considere que o grande fardo dos santos do Antigo Testamento era o seu pecado (cf. Mt. 11:28). Aqueles cansados e sobrecarregados são os que tinham tentado encontrar perdão do pecado e salvação nas obras da lei, mas que encontraram somente futilidade em todo o seu labor, e para quem a lei se tornou um fardo impossível de suportar. Quão pungente então as palavras do nosso Senhor: "Vinde a mim…" (v. 28). No reino havia completo perdão e o esplendor e glória da salvação. Após todos esses anos de sofrimento duro e ansioso, João abriu a fenda da porta quando apontou Cristo como a porta. Os santos não podiam ser detidos. Eles atacaram a porta. Ainda o fazem. Você e eu. Não podemos mais suportar o fardo do pecado. Corremos para Cristo. Ninguém pode nos manter longe. O desejo de todo o nosso coração é ser encontrado nele!


Observe, contudo, que usei consistentemente a palavra "santos" para descrever aqueles que atacam a porta do reino. Essa palavra específica é a chave para a resposta à nossa segunda pergunta: "Isso significa que um crente deveria fazer algum esforço para entrar no reino?".


Tomada ao pé da letra, a resposta a essa pergunta é: "Sim! Sim, sem dúvida". Jesus diz isso em muitos lugares. Devemos entrar pela porta estreita. Isso é algo que fazemos. Devemos negar a nós mesmos e tomar a nossa cruz se quisermos ser discípulos de Jesus. Nós fazemos isso. Devemos nos tornar como crianças para entrar no reino. Esse é o nosso chamado e obrigação. Os santos não são e não podem ser antinomianos, que alegam que não precisam nada senão sentar com os braços cruzados em suas cadeiras de balanço, e deixar Deus fazer tudo. Tornamo-nos um povo negligente e profano porque cremos que a salvação é pela graça somente? Não! Que tipo de santo é esse (Rm. 6:1ss.)? Que ninguém diga que a fé Reformada ensina tal coisa!


Somente os santos viram através da fenda na porta e somente eles capturaram um vislumbre das riquezas do outro lado. Somente os santos atacaram (e ainda atacam) a porta. E, não se esqueça, os santos são aqueles que já estão no reino: pelo poder da promessa de Deus na antiga dispensação e pelo Espírito de Cristo na nova dispensação. Porque são santos, eles foram lavados no sangue de Cristo, o governador soberano desse reino, que imputa a todos os seus a justiça que adquiriu na cruz.
Mas eles são santos que pecam, ou pecadores santificados. E assim, eles (eu e você) devem correr diariamente para Cristo como um refúgio para o fardo e cansaço dos nossos pecados. Corremos para Cristo, a porta; vemos a bem-aventurança gloriosa do reino dos céus; atacamos a porta (com petições ansiosas por perdão no sangue de Cristo e para obter a bem-aventurança que é encontrada nesse reino). Tomamos o reino por força.
Até mesmo o ataque do reino pelos santos é mediante o poder de estar nesse reino, pois é Deus quem opera em nós tanto o querer como o realizar a sua boa vontade (Fp. 2:12-13). As atividades nas quais o crente se engaja, capacitado pela graça, são suas ações, ações pelas quais ele é até mesmo recompensado. Que ninguém diga que não precisa fazer algo. O mandamento do evangelho ao povo de Deus é: "Sejam o que Deus fez de vocês!". Ataquem a porta e tomem o reino por violência! E atravessem a porta, que é Cristo!


1E-mail para contato: felipe@monergismo.com. Traduzido em dezembro/2007.
2"E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele". (Mt. 11:12, ACF)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O Falso Jesus da Sibéria - Sergei Torop





Jesus da Sibéria Sergei Torop era um guarda de trânsito, na pequena cidade russa de Minusinsk até 1989, quando anunciou que era o filho de Deus. Agora, ele comanda uma grupo de milhares de pessoas que obedecem suas regras sobre uma grande área nas montanhas da Sibéria.



Quatro mil metros acima de uma montanha no fundo da Taiga siberiano, o homem de meia idade aparece envolto em um manto de veludo carmesim, longos cabelos castanhos estampando um sorriso beatífico. Ele se senta em uma cabana empoleirada na testa da montanha. É uma sala com uma vista deslumbrante; as montanhas nevadas à distância, a prata e rosa das florestas cintilam à luz do sol claro. Para baixo à direita, a água pura do lago azul Tiberkul fascina. Atrás da cabine, para muito além do que os olhos podem ver, cerca de mil quilômetros de trechos desérticos da Sibéria, carentes de habitação humana.


"É tudo muito complicado", ele começa calmamente. "Mas para manter as coisas simples, sim, eu sou Jesus Cristo. Aquilo que foi prometido deve acontecer. E foi prometido em Israel há 2.000 anos que eu voltaria, eu voltaria para terminar o que comecei. Não sou Deus, é um erro considerar Jesus como Deus. Mas eu sou a palavra viva de Deus Pai. Tudo o que Deus quer dizer, ele diz através de mim".


Conheça o messias da Sibéria, “Vissarion Cristo” o mestre, como é conhecido pelos seus milhares de discípulos, que estão convencidos de que ele é a reencarnação de Jesus de Nazaré, que volta à terra para salvar o mundo.


"Ele irradia amor incrível", suspira Hermann, 57, um engenheiro da Baviera, que agora está vendendo sua casa na Alemanha para se juntar ao auto proclamado messias da Taiga. "Eu conheci Vissarion em agosto passado. Ele me disse que tínhamos de seguir suas leis. Foi como um choque elétrico, como sinos tocando."


Para encontrar Vissarion, você voa 3.700 km a leste de Moscou ao sul da cidade siberiana de Abakan, ao norte da fronteira da Mongólia, em seguida, viaja durante seis horas pelas estradas esburacadas através de uma série de aldeias. Onde a estrada termina em uma montanha russa de crateras, o pântano começa então você começa uma caminhada às vezes de joelhos em meio à lama e o gelo por três horas antes da subida final para o "salvador", uma hora de subida íngreme de um caminho de montanha.


Ao testemunhar a vida destes desistentes New Ages (nova era) nas aldeias de Kuragino, Imisskoye, Petropavlovka e Cheremshanka, consegue-se uma vaga idéia de como as coisas devem ter sido no século 17, pais peregrinos labutando afastados em sua nova Jerusalém.


"A vida é tão difícil aqui", diz Denis, um 21 anos emigrante russo, que chegou semana passada da Brisbane para ver se realmente teria a resposta às suas perguntas. "Não há dúvida sobre isso", afirma. "ele é definitivamente, o filho de Deus".


Para seus críticos nas igrejas estabelecidas que o acusam de lavagem cerebral e desvio de seus seguidores, Vissarion é um charlatão que iludi os devotos "um destruidor, de seita totalitária". Mais prosaicamente, ele é Sergei Torop, um ex-guarda de trânsito de 41 anos e operário de Krasnodar no sul da Rússia, que se mudou para a Sibéria na juventude, experimentou “seu despertar” uma década atrás, e agora lidera uma das maiores e mais remotas comunidades religiosas no planeta.


Combinando o ecletismo da nova era com o monarquismo medieval, os Vissarionianos, agrupados em torno de 30 assentamentos rurais no sul da Sibéria, agora em número aproximado de 4.000, são inquestionavelmente dedicados ao seu guru. Eles pronunciam seu nome em voz baixa, decoram suas casas, templos e locais de trabalho com a sua imagem. Eles o reverenciam em cada ato ou palavra. Eles se debruçam sobre os seus quatro grossos volumes de poesia. Seus aforismos são aprendidos de cor e regurgitados ao longo do dia.


A comunidade de Vissarion é regida por misteriosos rituais, leis, símbolos, orações, hinos e um novo calendário. Um estrito código de conduta é imposta: os vícios não são permitidos. O veganismo é obrigatório para todos, apesar de que exceções podem ser feitas para crianças e mães lactantes, para as quais são permitidos produtos de leite azedo (se é que se pode encontrá-los). Não há criação de animais. O dinheiro é proibido no território do município, e só com muita relutância é permitido o contato com o mundo exterior.


"Não somos autorizados a fumar, ou jurar, ou beber", brinca Larissa de 28 anos e mãe de três filhos que veio de Moscou com sua mãe quando ainda tinha 18 anos. "Tudo é proibido aqui. Nós não estamos autorizados a fazer qualquer coisa exceto nos apaixonarmos".



Em meio aos devotos incluem-se músicos russos, atrizes, professores, médicos, ex-coronéis do Exército Vermelho, um ex-ministro adjunto da Bielorrússia, bem como um crescente número de adeptos da Europa ocidental. Eles bebem a seiva das árvores do vidoeiro que usam para a habitação, ferramentas e mobiliário. Eles se alimentam de bagas, nozes e cogumelos recolhidos na floresta. Eles plantam batatas, repolho e alcachofras de Jerusalém em terra firme. Eles trocam artesanato e legumes por trigo e cevada com as aldeias vizinhas. "O homem pode viver em qualquer condição extrema", Vissarion pronuncia, com um permanente sorriso de Mona Lisa a jorrar em seus lábios. "Claro que é difícil, especialmente para os intelectuais e os utilizados para trabalhar nas cidades. Mas é importante que as pessoas vejam a si mesmas e uns aos outros. Fica mais fácil quando a labuta é difícil. Não há salvação sem dificuldades."


Em um pico adjacente, um grande sino foi montado pelos crentes. Ouve-se suas badaladas em todo o vale três vezes por dia. Ao ouvir-las, seu fiéis se prostram de joelhos a rezar. O sino pesa 270 kg. Os seguidores o carregaram a pé por 50 quilômetros sob chuva torrencial da aldeia onde o metal foi fundido, e em seguida, transportaram-no até o cume. Vissarion é muito poupado do trabalho físico. Enquanto as equipes de jovens cavam valas de irrigação ao lado de sua moradias, ele passa o tempo no topo da montanha pintando telas a óleo por longos dias.


Aos 18 anos de idade, Sergei Torop ingressou à carreira militar alistando-se no Exército Vermelho, terminando como sargento especialista em construção de estaleiros na Mongólia, antes de trabalhar durante três anos como metalúrgico em uma fábrica na cidade siberiana de Minusinsk. De lá, o auto proclamado salvador trabalhou como guarda de trânsito, também em Minusinsk, recebendo nove comendas durante cinco anos de serviço. Os cortes de empregos em 1989 causaram desempregos, a União Soviética estava rumando para o caos. Milhões de russos estavam perplexos e desejosos de respostas. O advento da nova era também coincidiu com o renascimento de Sergei como Vissarion.


Milhares de pessoas, a maioria deles profissionais da educação residentes nas cidades na Rússia européia, abandonaram esposas, maridos e filhos e se bandearam para a Igreja do Último Testamento, refazendo o vôo dos cismáticos para a Sibéria da Rússia européia 350 anos atrás para escapar da perseguição da Igreja Ortodoxa. Os descendentes dos cismáticos 'agora compartilham algumas das aldeias com os mesmos Vissarionites que assimilaram muitos elementos dos rituais ortodoxos, cujo sistema de crença também abraça o eclétismo que alguns dizem ser incoerente por coadunarem com o mash-mish de budistas, os taoístas e valores verde.


Durante séculos, os espaços abertos da Sibéria têm atraído os sectários, os loucos e os não-conformista. A década pós-soviética reavivou a tradição, trazendo um "boom" no evangelismo e cultos new age (nova era). De 140 organizações religiosas registradas na República de Khakassia, diz Nikolai Volkov, oficial chefe do governo local que lida com assuntos religiosos, 28 são "novos movimentos religiosos", como seitas new age são o dobro.





Para a Igreja do Último Testamento, o calendário marca hoje o ano 42 da nova era, vez que se inicia com a data de nascimento Vissarion. O Natal foi abolido e substituído por um dia de festa que ocorre no dia 14 de janeiro, aniversário do Mestre. O maior feriado do ano cai em 18 de agosto, aniversário do primeiro sermão de Vissarion em 1991, quando o "salvador" desce da montanha a cavalo para se juntar a milhares de crentes que se divertiam no rio que corre pela aldeia de Petropavlovka.


A leste fica Cidade de sol. É aqui, no sopé da montanha onde vive o “salvador” com a esposa e seis filhos (incluindo uma menina adotada por mãe solteira na comunidade), e é lá que os fiéis mais devotos, os mais comprometidos do Vissarionites congregam. Em um trecho da turfa taiga, pântano que eles construiram de vidoeiro e cedro, 41 famílias vivem em cabanas de madeira. Os homens usam rabo de cavalo e barbas, as mulheres de cabelo longo e saias longas. A maioria deles tem média de idade de 30 anos. O riso das crianças está em toda parte. Há uma escola e um jardim de infância. A taxa de natalidade aqui é muito maior do que as dos vilarejos russos.


O clima é alegre e apocalíptico. "Você não ouviu?" Sorri Igor enquanto nos guia através do pântano. "Um cometa vai chocar com a Terra no próximo ano." Com sua bengala, barba, túnica, chapéu de feltro, com seus 48 anos, alcoólatra recuperado de São Petersburgo, parece que andou fora do jogo do Senhor dos Anéis ".



Se o cometa põe em perigo iminente a maioria da humanidade, a Cidade do Sol é a missão do Noé da Arca da Rússia, na melhor tradição do messianismo ortodoxo da "Terceira Roma", é para resgatar o resto de nós. "Esta parte central da Sibéria é a parte do mundo que pode sobreviver melhor", explica Vissarion. "E esta é uma sociedade que pode suportar grandes mudanças e ser mais receptivos a uma melhor compreensão da verdade."


Por enquanto, porém, pode esperar o apocalipse. Há trabalho a fazer e difundir a palavra. Nos últimos anos Vissarion foi para Nova York, Alemanha, Holanda, França, Itália e a buscando converter pessoas. Pela primeira vez, ele acaba de ser "convidado" a Grã-Bretanha, onde ele espera pregar “em breve".


Organismos internacionais, alimentam as suspeitas de que ele está vivendo a expensas de seus discípulos. Ele insiste que nem ele nem a igreja tem nenhuma renda "regular", que suas viagens ao estrangeiros são "patrocinadas" por seus anfitriões. Sua moradia, é alimentada por baterias solares e um moinho de vento de pequeno porte, é modesta, só mais confortável do que as casas de seus seguidores. Também é mais recuada, uma hora de subida íngreme a caminho da Cidade do Sol .


"Eu estou com ele a 10 anos, eu o conheço", disse Vadim, um ex-baterista de uma banda de rock russ e braço direito de Vissarion. "Ele é a única pessoa que conheço que vive o que prega. Dizem que ele é um mentiroso e uma fraude, levando o dinheiro. Eles estão apenas descrevendo a forma como eles se comportam".



Às 7h, os homens e algumas mulheres surgem de suas cabanas em direção ao centro da cidade, numa área marcada por um círculo de barro cercado por pedras, no centro do qual está um anjo esculpido em madeira com as asas estendidas, protegendo o símbolo dos Vissarionites, uma cruz dentro de um círculo. Este é um ritual diário. Os fiéis se ajoelham sobre tábuas de madeira curta, para as orar e cantar hinos, liderada por um homem com um barítono rico. Em seguida, eles dão as mãos em um círculo ao redor das pedras, levantando suas cabeças para a montanha, de onde eles acreditam Vissarion está assistindo, e cantam hinos como "nosso pai do concurso".


"A imortalidade é a qualidade original da alma humana, mas a humanidade tem de aprender a alcançá-la, como viver eternamente", diz Vissarion que em silêncio encobre a cabeça em um xale branco movendo-se lentamente.


"Há um lugar no Novo Testamento, onde Jesus diz que o tempo virá quando eu não vou mais falar em parábolas. Essa hora chegou: o tempo para as pessoas verem o objetivo da vida."


quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A Bíblia e a Ciência

A CIÊNCIA E A VERDADE



11/5/2007



O astrônomo Carl Sagan, autor do popular seriado de TV “Cosmos”, costumava repetir em cada episódio da série o refrão: “O cosmo é tudo o que existe, sempre existiu e sempre existirá”. A frase não é uma conclusão cientifica. É um dogma fundamentalista professado por aqueles que gostariam que as coisas fossem assim. Mas não são. A história da ciência demonstra que ela jamais poderia provar o que Sagan afirmou.

Um pioneiro das pesquisas sobre o cérebro e ganhador do Nobel, Sir John Eccies, diz:”Precisamos desacreditar a crença sustentada por muitos cientistas de que a ciência produzirá por fim a verdade final sobre tudo”.
O Nobel de Física 2006 foi concedido por uma investigação cosmológica cujo resultado fora publicado em 1992, quando os agraciados demonstraram haver comprovado que o universo é composto por:


ENERGIA ESCURA ........71 %






MATÉRIA ESCURA ....... 25 %






MATÉRIA ORGÂNICA ..... 4 %


Significa dizer que as galáxias, os planetas, a terra, nós, em resumo, o universo conhecido ou cosmo na linguagem de Sagan, somos feitos de um punhado original de coisas que representa apenas 4% de tudo o que existe no mundo visível. A ciência nasceu, desenvolveu e apresenta suas conclusões sempre dentro dos estreitos limites daqueles 4% de matéria identificável, sujeita a experimentos. E muitas vezes ela esteve errada, como cabalmente demonstrou Thomas Kunh no livro: “A Estrutura das Revoluções Cientificas”, uma das melhores obras publicadas no século XX.

A humanidade esteve errada durante muito tempo, em diversas fases da História. Um erro muito arraigado só pode ser removido por meio do que Kunh chamou de “revolução cientifica”. Os filósofos Pitágoras, Heráclito, Anaxágoras e Aristóteles, bem como o patriarca Jó e o profeta Isaías, todos sabiam que a terra é redonda, enquanto mais de 99% da população tinha certeza de que ela é plana. Desde Ptolomeu era pacífico que o sol gira em torno da terra até que Copérnico declarou e Newton demonstrou que é a terra que gira em torno do sol. Até 1900 todo o mundo cientifico sabia que a luz se propaga de forma contínua, quando, a partir de Max Planck, ficou demonstrado que a luz se propaga por pacotes (quanta), daí as expressões “física quântica” e “mecânica quântica”.

A Teoria da Evolução, um outro exemplo, é estruturada sobre pressuposições não comprovadas e dogmas científicos. Para ensinar que o sistema solar tem 4,5 bilhões de anos a teoria usa diversos métodos de medição da antiguidade dos fósseis. O mais conhecido deles é o da aferição por meio do carbono 14. Mas esse método tem por base um dogma cientifico que diz: “A velocidade de deterioração radioativa do carbono 14 não muda”.

Do livro “Razões para os Céticos considerarem o Cristianismo” de Josh McDowell e Don Stewart, Editora Candeia, p. 119, transcrevo esse trecho:


"Se o carbono 14 deteriorasse mais depressa ou mais devagar no passado, então a idade obtida através da velocidade atual de deterioração estaria errada. O interessante sobre a velocidade de deterioração do carbono 14 é que ela pode ser modificada no laboratório. John Lyude Anderson fez uma experiência em que alterou a carga elétrica numa placa que continha carbono 14. Ele relata o seguinte: “A média durante os 90 v+ condições é, portanto, maior do que nove desvios padrão abaixo do que for observado a 90 v”. Isso significa que a taxa de deterioração foi radicalmente alterada, aplicando potenciais elétricos diferentes ao carbono 14. As implicações disso são de longo alcance. Por exemplo, cada vez que uma tempestade elétrica passasse sobre um objeto no chão, ela poderia alterar a taxa de deterioração do carbono 14. A carga elétrica nas nuvens e na terra em tais ocasiões produziria o mesmo efeito que o produzido por Anderson no laboratório".


Existem diversos experimentos laboratoriais que evidenciam a falacidade desse e de outros métodos tradicionais de avaliação da idade do sistema solar, da terra e do aparecimento do homem na terra. Acreditar nos dados fornecidos com base em tais métodos torna-se, pois, mais uma questão de fé do que de verdade científica.
Neste inicio de século XXI a maioria da intelectualidade humana tende a aceitar dois postulados


1. Não existe uma verdade;
2. Se existe, não pode ser alcançada pelo homem


Os cinco responsáveis pelo conteúdo DESTE SITE acreditam


1. Existe uma verdade;
2. Ela pode ser alcançada;
3. Seu alcance é o único meio pelo qual uma pessoa pode tornar-se feliz.




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Autor: Neemias C. Miranda


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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Missões: do Eventual para o Habitual


O tema merece uma pergunta: Quando é que a missão deixa de ser ação eventual para se tornar ação habitual?



Certamente, a resposta a essa questão não nos convida a intensificarmos as ações missionárias para que a missão se torne uma ação habitual. Intensificar as ações é deixar de considerar que a missão é o coração da vida da igreja. Se a igreja deixar de ser missionária, ela não somente terá fracassado em uma tarefa. Ela deixará de ser igreja. Missão será algo habitual, somente quando ela for um estilo de vida da igreja.


O missiólogo Newbigin, em seu livro O Evangelho em uma Sociedade Pluralista, coloca esse quadro na seguinte perspectiva: “A Igreja é o lócus e não o agente da missão.” Newbigin explica: “É Deus quem age no poder do seu Espírito, fazendo grandes obras, criando sinais de um novo tempo, operando secretamente nos corações de homens e mulheres para levá-los à Cristo.”


A missão é de Deus e esse conceito sustenta que missão é a iniciativa de Deus para com o mundo e a natureza essencial da igreja. Foi esse o sentido das palavras de Jesus aos seus discípulos, quando afirmou categoricamente, “como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21). Da mesma forma como o Pai enviou o Filho, e o Filho o Espírito, o Filho e o Espírito enviaram a igreja ao mundo.


Na Conferência de Lambeth (1998), afirmou-se o seguinte: “A missão é de Deus e vem de Deus. Missão é o meio pelo qual Deus ama e salva o mundo”. Como cristãos, nós respondemos a esse movimento do amor redentivo de Deus, que está em ação. O povo de Deus é chamado para engajar-se nesse movimento de servir a missão de Deus, vivendo e proclamando as boas novas. Não somos nós que temos uma missão. A missão de Deus nos possui.


Para nós, cristãos-reformados, a missão de Deus nos engaja em um movimento que visa a transformação do mundo. À medida que vamos respondendo ao chamado de Cristo, caminhando pelo caminho do seguimento, cremos que o poder e a ação do Espírito Santo vão clareando para nós a dinâmica dessa missão. O evangelho, a oração, o engajamento, a reflexão e a convivência são instrumentos de Deus para respondermos aos cenários do nosso próprio contexto urbano. Esse movimento é cotidiano, habitual, considerando a natureza dinâmica da própria fé cristã e da realidade sócio-cultural onde a mensagem será vivida e proclamada.


Fazer missão como ação habitual é considerar pelo menos três pontos vitais: ir, engajar-se e encarnar-se.


A igreja deve viver como povo enviado, e não somente como povo que envia. Enquanto a igreja permanece enviando pessoas para campos específicos para tipos específicos de ministérios, ela também vive como povo enviado no local onde, social e culturalmente, Deus a tem plantado.


A igreja deve ainda viver, participar e ministrar redentivamente em sua cultura. A maior parte dos cristãos tende a se retirar da cultura. Essa atitude enfraquece a efetividade na comunicação de Jesus aos grupos e pessoas que devem ser alcançadas com o poder do evangelho. É preciso reconhecer que a cultura deve mais nos desafiar do que nos distanciar. Lembremo-nos que o evangelho é visto como um poder autêntico de mudança de vida somente no contexto da cultura.


Finalmente, nós e o evangelho devemos estar encarnados onde vivemos. A dimensão da encarnação fala das peculiaridades e diferenças em cada contexto cultural específico. Uma igreja inserida no contexto metro-urbano é completamente diferente daquela que está estabelecida em contextos rurais. Em alguns casos, igrejas enfrentarão as mesmas questões com o Evangelho, mas em outros, o mesmo Evangelho trará redenção por caminhos completamente diferentes a questões diferentes. Ao invés de criarmos programas de abordagem padronizada, é necessário permitir que o Reino de Deus se apresente à comunidade por meio da igreja pelos caminhos que cada contexto cultural oferece.




Escrito por: Rev. Valter Moura

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A morte do discernimento em A Cabana



Considerações sobre uma Heresia Celebrada e Amada por muitos, inclusive Evangélicos




“Enquanto tentava estabelecer algum equilíbrio interno, a raiva voltou a emergir. Energizado pela ira, Mack foi até a porta. Decidiu bater com força para ver o que acontecia, mas, no momento em que levantou o punho, a porta se escancarou e diante dele apareceu uma negra enorme e sorridente. Mack pulou para trás por instinto, mas foi lento demais. Com uma velocidade surpreendente para o seu tamanho, a mulher atravessou a distância entre os dois e o engolfou nos braços, levantando-o do chão e girando-o como se ele fosse uma criança pequena. E o tempo todo gritava o seu nome, Mackenzie Allen Phillips, com o ardor de alguém que reencontrasse um parente amado há muito perdido. Por fim, colocou-o de volta no chão e, com as mãos nos ombros dele, empurrou-o para trás, como se quisesse vê-lo bem”.[1]


I – SOBRE O LIVRO

O parágrafo acima é um trecho de um livro que alcançou o 1º lugar na lista dos mais vendidos do The New York Times. Além disso, tem se mantido durante quarenta e três semanas seguidas na lista dos 10 mais vendidos da Revista Veja. Atualmente, figura como o 2º colocado. Trata-se do livro A Cabana, escrito por William P. Young, formado em Religião, nos Estados Unidos.

O que esse livro tem em seu escopo, que fez com que alcançasse grande sucesso, vendendo milhões de exemplares? O segredo reside no tratamento dado ao assunto que é comum a todos os seres humanos: o sofrimento. Ele conta a história de um homem de 56 anos, Mackenzie Allen Phillips, pai de cinco filhos e casado com Nannete A. Samuelson. Num determinado final de semana, Mack leva toda a família para um acampamento no Parque Estadual do Lago Wallowa, no estado americano do Oregon. Logo no dia seguinte, quando preparava café da manhã para os seus filhos, dois deles, Josh e Kate, pediram-lhe para dar um último passeio na canoa de um casal amigo. Com a permissão do pai, ambos empreenderam tal passeio. Porém, os dois se desequilibraram e viraram a canoa, o que fez com que Mack mergulhasse imediatamente para salvar Josh, que ficara preso embaixo da canoa. Nesse ínterim, sua filha mais nova, a pequena Missy foi sequestrada por um estranho. Uma longa e desgastante busca foi feita na tentativa de encontrar Missy. Seguindo algumas pistas, como relatos de que ela tinha sido vista numa picape verde, Mack e a equipe de busca chegaram a uma cabana em ruínas, onde encontraram o vestido da criança rasgado e encharcado de sangue.

A partir daí, Mack passou a enfrentar um sofrimento terrível (denominado no livro como Grande Tristeza) por conta do sumiço e subsequente assassinato de sua filhinha. Um emaranhado de sentimentos passou a acossá-lo, inclusive a revolta por Deus ter permitido tal brutalidade, e a culpa por ter se descuidado. Além disso, Mack sofria muito ao perceber como sua filha Kate estava cada vez mais distante e isolada. Ele queria ajudá-la, mas não sabia como.

A Grande Tristeza o acompanhou por alguns anos até que, durante uma tempestade, ao verificar a caixa de correio, Mack se deparou com um bilhete datilografado, com os seguintes dizeres: “Mackenzie, já faz um tempo. Senti sua falta. Estarei na cabana no fim de semana que vem, se você quiser me encontrar. Papai”.[2] Ao verificar a caixa de correio, Mack se deparou com um bilhete datilografado por Deus, convidando-o a ir até à cabana onde sua filhinha fora assassinada, para ali receber a cura para o seu sofrimento. Depois de relutar muito, Mack foi até lá, e ao chegar, deparou-se com a Trindade. O restante da narrativa mostra o desenrolar dos acontecimentos durante o final de semana em que Mack desfrutou da companhia das três Pessoas da Trindade e foi transformado em um novo homem.

Os objetivos de William Young ao escrever essa obra foram nobres e elogiáveis: 1) apresentar o conceito de que o sofrimento humano possui sentido; 2) ensinar que Deus usa o nosso sofrimento e a nossa dor com vistas a um propósito maior. O grande problema é que o autor, na tentativa de cumprir seus objetivos, lança mão de conceitos heterodoxos, heréticos, blasfemos e antibíblicos. O que segue é uma análise, ainda que perfunctória, à luz da teologia bíblico-reformada do conteúdo perigoso apresentado pelo livro A Cabana, que tem prestado um verdadeiro desserviço ao Cristianismo. Minha preocupação ao escrever esta resenha não é destruir o deleite das pessoas. Antes, parto de uma preocupação pastoral, visto que esse livro tem sido lido por pessoas da igreja onde sirvo, e endossado por líderes descomprometidos com uma saudável teologia bíblica. Não tenho como objetivo ensinar prisão mental e espiritual. Muito menos ensinar uma forma de obscurantismo tridentino, confeccionando um novo Index de livros proibidos. Minha intenção é ajudar as pessoas a discernirem o que está por trás do best-seller A Cabana.


II – CONCEITOS HERÉTICOS

2.1. FEMINIZAÇÃO DE DEUS

O primeiro grande problema apresentado no livro é a feminização de duas das três Pessoas da Trindade. Como pode ser observado na citação feita logo no início, Deus, o Pai, é apresentado como “uma negra enorme e sorridente”, chamada de Elousia. Já Deus, o Espírito santo, é descrito como “uma mulher pequena, claramente asiática”, chamada de Sarayu.[3] Deus, o Filho, Jesus, é o único que escapa da feminização. No entanto, ele é descrito como um homem “do Oriente Médio e se vestia como um operário, com cinto de ferramentas e luvas. Estava de pé, tranquilamente encostado no portal e com os braços cruzados, usando jeans cobertos de serragem e uma camisa xadrez com mangas enroladas acima dos cotovelos, revelando antebraços musculosos”.[4]

O inusitado é que Elousia, o Pai, diz a Mack o seguinte: “Mackenzie, eu não sou masculino nem feminina, ainda que os dois gêneros derivem da minha natureza. Se eu escolho aparecer para você como homem ou mulher, é porque o amo”.[5] O ponto é que na Bíblia não há nenhuma indicação de que Deus intente realizar esse tipo de coisa, visto que, primeiramente, ele é espírito, não podendo ser concebido a partir de concepções que envolvam qualquer tipo de “aparição” à parte de sua revelação na bendita pessoa do Senhor Jesus Cristo. Na encarnação, Deus se revelou em Jesus Cristo, de maneira que este é a revelação perfeita, a expressão exata do seu Ser (Hebreus 1.3). Além disso, ao longo de toda a Escritura, Deus sempre faz referência a si utilizando termos masculinos. Somente alguém que renega o conceito de inspiração das Escrituras é capaz de sugerir algo que não encontre precedente na revelação canônica de Deus. William Young vai além dos limites bíblicos, e até onde sei, isso é heresia!

A apresentação de Deus Pai e do Espírito Santo como duas mulheres se constitui numa quebra flagrante e gritante do Segundo Mandamento (Êxodo 20.4-6), cujo princípio proíbe a construção de qualquer imagem, inclusive mental, para representar qualquer uma das Pessoas da Trindade. Na exposição que faz sobre os pecados proibidos no Segundo Mandamento (Pergunta 109), o Catecismo Maior de Westminster diz o seguinte:


Os pecados proibidos no segundo mandamento são: o estabelecer, aconselhar, mandar, usar e aprovar de qualquer maneira qualquer culto religioso não instituído por Deus; fazer qualquer imagem de Deus, de todas ou de qualquer das três Pessoas, quer interiormente no espírito, quer exteriormente em qualquer forma de imagem ou semelhança de alguma criatura...[6]


Onde William Young fez, primeiramente, as imagens do Pai e do Espírito Santo como duas mulheres? A resposta é: em sua mente! Creio que seja pertinente citar o comentário que o Dr. Johannes Geerhardus Vos faz acerca da resposta do Catecismo:


Porque Deus é puro espírito, sem forma corpórea, e qualquer imagem ou representação que o homem possa fazer dEle dá somente uma falsa idéia da Sua natureza. Assim como nos intima o Catecismo, isso é verdadeiro não importando se a imagem ou representação de Deus tenha sido produzida externamente, ou se é apenas interna à mente de alguém. Em ambos os casos a tentativa de visualizar Deus é pecaminosa e só pode falsificar ou distorcer a revelação dEle apresentada na Bíblia.[7]


Alguém ainda pode argumentar, afirmando que, “se Deus quiser, ele pode aparecer pra alguém como uma mulher. Além disso, a figura feminina desperta maior encanto e fascina mais do que a figura masculina”.[8] Várias objeções podem ser apresentadas a esta afirmação, no entanto, apresentarei apenas três: Primeiramente, Deus já quis se revelar em forma humana. E, de fato, ele já se revelou em Jesus Cristo, portanto, qual a necessidade de uma nova “aparição” em forma humana? Em segundo lugar, será que a figura feminina é capaz de despertar maior encanto e fascínio do que a pessoa mansa e humilde do Senhor Jesus Cristo? Por que o Pai não pensou nisso? E em, terceiro lugar, esta afirmação se constitui num pressuposto assumido, porém, não provado. Na verdade, é impossível prová-lo!


2.2. CRISTOLOGIA HERÉTICA

Os conceitos apresentados a respeito da pessoa de Jesus Cristo também são completamente deturpados. O ponto mais grave é a confusão a respeito das duas naturezas de Cristo. Transcrevo abaixo parte de um diálogo entre Mack e Deus, o Pai, a respeito de Jesus:


- Mackenzie, eu posso voar, mas os humanos, não. Jesus é totalmente humano. Apesar de ele ser também totalmente Deus, nunca aproveitou sua natureza divina para fazer nada. Apenas viveu seu relacionamento comigo do modo como eu desejo que cada ser humano viva. Ele foi simplesmente o primeiro a levar isso até as últimas instâncias: o primeiro a colocar minha vida dentro dele, o primeiro a acreditar no meu amor e na minha bondade, sem considerar aparências ou consequências.

- E quando ele curava os cegos?

- Fez isso como um ser humano dependente e limitado que confia na minha vida e no meu poder de trabalhar com ele e através dele. Jesus, como ser humano, não tinha poder para curar ninguém.[9]


Nesse ponto, caro leitor, peço que você pare e leia novamente o diálogo supramencionado. De acordo com William Young, Jesus, como ser humano não tinha poder para curar ninguém. É impossível conciliar esta afirmação com a seguinte afirmação do próprio Jesus: “Mas Jesus disse: Quem me tocou? Como todos negassem, Pedro com seus companheiros disse: Mestre, as multidões te apertam e te oprimem e dizes: Quem me tocou? Contudo, Jesus insistiu: Alguém me tocou, porque senti que de mim saiu poder” (Lucas 8.45, 46). No episódio em questão, Jesus não deixou de ser humano. É possível que algum ignorante, afeiçoado às heresias, argumente a partir de Lucas 5.17: “Ora, aconteceu que, num daqueles dias, estava ele ensinando, e achavam-se ali assentados fariseus e mestres da Lei, vindos de todas as aldeias da Galiléia, da Judéia e de Jerusalém. E o poder do Senhor estava com ele para curar”. É possível que o ignorante pense: “te peguei!”. Será mesmo? Pois bem, peço a ele que leia o que diz Lucas 4.14: “Então, Jesus, no poder do Espírito, regressou para a Galiléia, e a sua fama correu por toda a circunvizinhança”. Aqui, Jesus realizava sua obra pelo poder do Espírito Santo. Mas, existe alguma passagem que indique que Jesus tinha poder? Existe alguma passagem que não indique que ele realizava seus feitos pelo poder do Pai ou do Espírito? Sim, há! Lucas 9.1 faz a seguinte afirmação: “Tendo Jesus convocado os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para efetuarem curas”. Por possuir poder foi que Jesus concedeu poder e autoridade aos doze.

Young ignora três coisas: 1) as três Pessoas da Trindade compartilham dos mesmos atributos, incluindo o poder; 2) Jesus, quando encarnou não perdeu nenhum dos atributos essenciais da Divindade, visto que isso é impossível; e 3) a encarnação não eclipsou nenhum dos atributos de Jesus. É verdade que a sua natureza humana limitou alguns de seus atributos. Ainda assim, isso é completamente diferente de se afirmar que Jesus não tinha poder para curar ninguém.

Ao longo de todo o livro, a impressão que o autor deixa é que Jesus ainda se encontra limitado por sua natureza humana, desempenhando o papel de um admirador embasbacado de sua própria criação, datada de uma época distante, quando ele era o Verbo.[10]


2.3. NEGAÇÃO DO CONCEITO BÍBLICO DE AUTORIDADE

Outro grave problema exposto em A Cabana é a negação do conceito bíblico de autoridade, como sendo uma instituição divina. William Young expressa por meio de uma ficção sua convicção de que o conceito de autoridade é algo estranho a Deus, tratando-se, na verdade, de uma mera convenção humana. Mais uma vez, transcrevo parte de um diálogo:


- Os humanos estão tão perdidos e estragados que para vocês é quase incompreensível que as pessoas possam trabalhar ou viver juntas sem que alguém esteja no comando.

- Mas qualquer instituição humana, desde as políticas até as empresariais, até mesmo o casamento, é governada por esse tipo de pensamento. É a trama do nosso tecido social – declarou Mack.

- Que desperdício! – disse Papai, pegando o prato vazio e indo para a cozinha.

- Esse é um dos motivos pelos quais é tão difícil para vocês experimentar o verdadeiro relacionamento – acrescentou Jesus. – Assim que montam uma hierarquia, vocês precisam de regras para protegê-la e administrá-la, e então precisam de leis e da aplicação das leis, e acabam criando algum tipo de cadeia de comando que destrói o relacionamento, em vez de promovê-lo. Raramente vocês vivem o relacionamento fora do poder. A hierarquia impõe leis e regras e vocês acabam perdendo a maravilha do relacionamento que nós pretendemos para vocês.[11]


Que conceito pernicioso! Contraria passagens bíblicas como Romanos 13.1-7, que afirma que as autoridades foram constituídas por Deus, e Efésios 5.21-6.9, que apresenta o mandamento apostólico inspirado acerca da autoridade e submissão que devem existir nos relacionamentos interpessoais. Um pouco mais adiante, o livro exala um forte odor marxista, quando William Young escreve: “A autoridade, como vocês geralmente pensam nela, é meramente a desculpa que o forte usa para fazer com que os outros se sujeitem ao que ele quer”.[12]

É preciso que se enfatize que o princípio de autoridade não é uma mera convenção humana, que tenha como objetivos a opressão e a servidão. A Bíblia, a Palavra de Deus, afirma categoricamente que, Deus instituiu o princípio de autoridade e constituiu magistrados para governarem a sociedade. Ademais, Deus instituiu a autoridade ao constituir Adão como vice-regente da criação, para governá-la como representante do Criador. Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio...” (Gênesis 1.26). No que concerne aos relacionamentos, o princípio de autoridade também foi instituído por Deus desde cedo, quando ao criar Eva, Deus declarou que ela seria uma “auxiliadora idônea” (Gênesis 2.18), e quando, após a Queda, Deus proferiu as seguintes palavras a Eva: “... o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará” (Gênesis 3.16).


2.4. SOTERIOLOGIA PLURALISTA

Outra doutrina nociva ensinada no livro é uma espécie de soteriologia pluralista, ou seja, William Young ensina que não apenas a Igreja cristã é a beneficiária dos méritos da morte de Jesus Cristo. De acordo com ele, Jesus salva o indivíduo sem, necessariamente, trazê-lo para o seio da Igreja. Mais uma vez, é pertinente citar suas próprias palavras. A citação é longa, porém, necessária para se entender o contexto:


- Mack, eu as amo. E você comete um erro julgando-as. Devemos encontrar modos de amar e servir os que estão dentro do sistema, não acha? Lembre-se, as pessoas que me conhecem são aquelas que estão livres para viver e amar sem qualquer compromisso.

- É isso que significa ser cristão? – Achou-se meio idiota ao dizer isso, mas era como se estivesse tentando resumir tudo na cabeça.

- Quem disse alguma coisa sobre ser cristão? Eu não sou cristão.

A idéia pareceu estranha e inesperada para Mack e ele não pôde evitar uma risada.

- Não, acho que não é.

Chegaram à porta da carpintaria. De novo Jesus parou.

- Os que me amam estão em todos os sistemas que existem. São budistas ou mórmons, batistas ou muçulmanos, democratas, republicanos e muitos que não votam nem fazem parte de qualquer instituição religiosa. Tenho seguidores que foram assassinos e muitos que eram hipócritas. Há banqueiros, jogadores, americanos e iraquianos, judeus e palestinos. Não tenho desejo de torná-los cristãos, mas quero me juntar a eles em seu processo para se transformarem em filhos e filhas do Papai, em irmãos e irmãs, em meus amados.[13]


Depois de ler estas palavras, algumas perguntas gritam para ser feitas: Os que amam a Jesus Cristo estão em todos os sistemas? Existem budistas que amam a Jesus? Mórmons? Jesus não possui o desejo de trazer os seus para fazerem parte do seu Corpo Místico? É possível que alguém seja salvo por Jesus Cristo e viva sem fazer parte da sua Igreja? Qual o conceito de Igreja esposado por William Young?

Infelizmente, percebe-se nas palavras do autor de A Cabana um desprezo por aquela que nas Escrituras é chamada de “a noiva, a esposa do Cordeiro” (Apocalipse 21.9). Além disso, mesmo negando, William Young acaba ensinando que “todas as estradas levam” a Deus.[14] O conceito de que, fora da Igreja não há salvação é menosprezado e negado pelo autor desta obra infame.[15]

Muitas outras heresias poderiam ser apontadas, como por exemplo, o conceito libertário da vontade, segundo o qual, os homens são completamente livres para amar ou deixar de amar a Jesus. Em toda a obra, o autor afirma que seguir a Cristo, amá-lo e obedecê-lo é pura e simplesmente, uma questão da vontade. Com isso, ele se posiciona ao lado de heresias como o pelagianismo, o semipelagianismo e o arminianismo. Na página 205 há algo muito sutil que passa despercebido por muitos. Na verdade, alguns leitores chegam ao ponto de achar meigo e doce. Num determinado momento, Jesus vem até onde Mack e Papai estão, e dá um beijo nos lábios deste. O ponto é que tal beijo acontece apenas depois que Deus, o Pai deixa a forma feminina e assume a forma masculina. É tão sutil o que aparece nas páginas que muitos incautos lêem e não percebem o que está sendo sugerido.


III – CONCLUSÃO

Os conceitos heterodoxos e perniciosos apresentados por William P. Young, no seu livro A Cabana, são muitos. Foram apresentados aqui apenas alguns. A conclusão à qual se pode chegar é que se trata de uma obra extremamente perigosa, que tende a formar a opinião das pessoas de maneira errada, completamente diferente daquilo que é apresentado pelas Sagradas Escrituras. Trata-se de um livro extremamente perigoso e nocivo, que está sendo amplamente consumido pelas pessoas, inclusive por evangélicos. É impressionante como na cidade onde moro (Marabá-PA), o livro pode ser encontrado até mesmo nas livrarias evangélicas. As pessoas lêem o livro, mas não conseguem discernir o que possuem em mãos. Muitas chegam a dizer que foram extremamente abençoadas ao lerem A Cabana. Sinceramente, não sei como alguém pode ser abençoado no erro e no engano.

O pior é perceber que o livro é endossado por líderes evangélicos e pastores. Na contra-capa há uma afirmação assustadora do cantor gospel canadense Michael W. Smith: “Esta história deve ser lida como se fosse uma oração – a melhor forma de oração, cheia de ternura, amor, transparência e surpresas. Se você tiver que escolher apenas um livro de ficção para ler este ano, leia A Cabana”. Isso induz muitos analfabetos funcionais ao erro. Também encontramos pastores que recomendam o livro de forma entusiasmada. Minha tristeza ao constatar tais fatos é enorme, pois percebo o quanto os ditos evangélicos se distanciaram das Sagradas Escrituras e abraçaram outras coisas em nada abençoadoras.

As pessoas lêem o livro, mas não procuram conhecer mais a respeito do autor, de suas convicções, não lêem imbuídas de um espírito crítico. Para que todos tenham uma idéia, o livro de William P. Young foi rejeitado nos Estados Unidos por todas as editoras cristãs e seculares. As editoras seculares o rejeitaram porque falava muito em Jesus. Já as cristãs por considerarem-no herético. Para que o livro pudesse ser publicado, Young, juntamente com alguns amigos teve que fundar sua própria editora. Aqui no Brasil, o livro foi publicado pela mesma editora de O Código da Vinci e de outras obras nada ortodoxas. Isso já deveria servir como uma espécie de alerta, mas não serve. As pessoas imaginam que porque um livro fala em Deus e em Jesus Cristo, necessariamente, trata-se de algo saudável. Alan Kardec também fala em Deus e em Jesus! Não estranharei se daqui a alguns anos líderes e pastores endossarem efusivamente os escritos espíritas às suas ovelhas.

Por essas e outras é que afirmo que o discernimento foi assassinado em A Cabana!

Kyrie Eleison! - "Senhor, tende piedade (de mim); Cristo, tende piedade (de mim); Senhor, tende piedade (de mim)".



[1] William P. Young, A Cabana, (Rio de Janeiro: Sextante, 2008), 73.

[2] Ibid, 19.

[3] Ibid, 74.

[4] Ibid, 75.

[5] Ibid, 83.

[6] CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER, (São Paulo: Cultura Cristã, 2002), 143-144.

[7] Johannes Geerhardus Vos, Catecismo Maior de Westminster Comentado, (São Paulo: Os Puritanos, 2007), 344.

[8] Afirmação feita por um ardoroso defensor da abominação em questão.

[9] William P. Young, A Cabana, 90.

[10] Ibid, 100.

[11] Ibid, 112.

[12] Ibid.

[13] Ibid, 168-169.

[14] Ibid, 169.

[15] É importante que o leitor compreenda que, ao fazer esta citação não estou defendendo o conceito católico romano de que, fora da Igreja Católica Apostólica Romana não há salvação. O ponto enfatizado é que, aqueles que forem salvos por Jesus Cristo, inevitavelmente serão trazidos para juntos da sua noiva, o seu Corpo Místico, a Igreja.


Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico do Nordeste, em Teresina; Bacharelando em teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie; pastor presbiteriano, servo de Cristo Jesus e comprometido com a boa e saudável teologia reformada. Com isso quero dizer que sou partidário dos princípios teológicos, litúrgicos e práticos da teologia puritana. Além de ser Amilenista, Pressuposicionalista e defensor do Princípio Regulador do Culto.