Por Ver. Cláudio Aragão da Guia
A frase a cima é uma das pérolas constantes do livro distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático, do MEC, a 485 mil estudantes jovens e adultos. Livro que, ironicamente, recebeu o título “Por uma vida melhor”, da coleção “Viver, aprender”.
Como alguém vai viver melhor, viver e aprender, falando “nós pega o peixe” ou “os menino pega o peixe”? como bem disse a escritora Ana Maria Machado, imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL): “Para evitar a noção de “errado”, prefere-se, então, esse paternalismo condescendente de não corrigir”. Contrariamente a essa postura paternalista a referida autora ressalta que “a escola deve ajudar o cidadão a se tornar um poliglota em sua própria língua, capacitando-o a utilizar registros diversos de linguagem em circunstâncias diferentes”.
As situações criticadas por Ana Maria e outros competentes analistas fazem parte de um quadro conhecido como analfabetismo funcional – condição de quem lê, mas não interpreta um texto – que, no Brasil, afeta um terço da população.
Mudando que deve ser mudado, não é diferente a situação de muitos crentes em nossas igrejas que, tais quais os nossos irmãos da igreja de Corinto, poderiam se classificados como “crentes funcionais”, pois a respeito deles diz o apóstolo Paulo em 1 Co 3.2: “Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais”.
Também o autor da epístola aos Hebreus, referindo-se aos cristãos hebreus, declara: “Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não alimento sólido” – Hebreus 5.12. Ao usar a expressão “princípios elementares”, o autor a utiliza exatamente como alguém fala do alfabeto. E o autor de Hebreus reputa aquela situação com absurda, tal qual a imortal Ana Maria o faz quanto ao livro “Por uma vida melhor”, ainda que sua autora tente defendê-lo, em nome de “uma suposta supremacia da linguagem oral sobre a linguagem escrita, admitindo a troca dos conceitos “certo e errado” por “adequado ou inadequado”.
O escritor Luiz Antônio Aguiar é ácido e certeiro em sua análise da situação: “Está valendo tudo. Mais uma vez, no lugar de ensinar, vão rebaixar tudo à ignorância”.
O autor da Carta aos Hebreus diz que aqueles irmãos – como acontece como alguns de nossos irmãos hoje – deviam ser mestres de outros, deviam ser poliglotas na fé, capacitados a utilizar registros diversos da linguagem da fé, em circunstâncias diferentes, atendendo ao que propõe 1 Pe 3.15: “Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós”, mas na verdade não eram ainda nem mesmo alunos capazes de compreender o ensino mais rudimentar, o beabá da fé.
Não podemos calar, não podemos incentivar o analfabetismo funcional, seja no que diz respeito ao ensino em nosso país, seja no ensino em nossas igrejas.
“Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo!” – Isaías 2.20.
Não devemos defender o errado e combater o certo. Não nos iludamos! Não podemos permanecer, para sempre, crianças, como aqueles que, na linguagem de Isaías, são “como faminto que sonha que está a comer, mas, acordando, sente-se vazio; ou como o sequioso que sonha que está a beber, mas, acordando, sente-se desfalecido e sedento” – Isaías 29.8.
A ordem é: “Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” – 1 Pe 3.18. Nós, cristãos, que somos pescadores de homens, não podemos jamais dizer “NOS PEGA O PEIXE”.
Pastoral da Igreja Presbiteriana da Ilha do Governador
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