"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."

Agostinho de Hipona



quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

As vítimas das cidades serranas não são piores do que nós

Escrito por Milton Alves
Em certo lugar, uma torre desabou e caiu sobre muita gente, fazendo 18 vítimas. Em outro lugar, sete homens e três mulheres, todos irmãos, estavam comemorando o aniversário do mais velho quando um vento muito forte bateu com ímpeto na casa e ela caiu em cima deles, esmagando-os. Não houve sobreviventes. Numa ocasião mais remota ainda, uma chuva forte de 40 dias e 40 noites encheu todos os rios, todos os vales, todas as planícies e todas as montanhas.
 Nunca houve nem haverá chuva igual. Todas as pontes caíram, todas as casas foram destruídas, nada ficou de pé. Todos morreram. Apenas uma família sobreviveu (porque estava dentro de um barco quando a chuva começou a cair). Todos os soldados do corpo de bombeiros e outros socorristas morreram. Não havia coveiros nem espaço para enterrar os mortos.


Essas três tragédias estão na Bíblia. A primeira é a queda da Torre de Siloé, construída sobre o muro que cercava Jerusalém (Lc 13.4). A segunda conta a história da morte dos filhos de Jó, a maior fortuna do Oriente (Jó 1.19). A terceira é a famosa história do dilúvio, provavelmente universal (Gn 7.1-24).



No caso dos 18 mortos da Torre de Siloé e dos dez filhos de Jó não se pode dizer que as catástrofes aconteceram como resposta de Deus à maldade humana. As 18 vítimas do desabamento da Torre não eram piores do que os outros que moravam em Jerusalém. É Jesus quem afirma tal coisa (Lc 13.4).



Mas o mesmo não se pode dizer a respeito do dilúvio. Na época da família de Noé, os únicos sobreviventes, o mundo estava cheio de pecado e violência e o cálice da indignação divina se encheu e derramou (Gn 6.9-13). Deus não tem um atributo só — o atributo da bondade, do amor, do perdão, da paciência, da graça, da misericórdia. Ele tem outro atributo, o atributo da severidade, da justiça e do juízo. É por essa razão que Paulo aconselha: “Notem como Deus é tão benigno e tão severo ao mesmo tempo” (Rm 11.22, BV). Em outra versão, diz-se: “Vejam como Deus é bom e também é duro” (NTLH).



Poucos, muito poucos, não acreditam em Deus, ou pensam que não acreditam. Mas, dos que acreditam, não poucos têm dificuldade de acreditar nos dois atributos de Deus. Acreditam no primeiro: Deus é amor (1Jo 4.8), mas não acreditam no segundo: Deus é Deus zeloso (Êx 20.5).



Nesses dias de chuva torrencial, enchentes, desabamentos e mortes, além do sentimento de compaixão pelos que perderam tudo, é uma boa ocasião para lembrar também do dilúvio e para pensar na anunciada destruição escatológica (do final dos tempos): “os céus e a terra que agora existem estão sendo guardados pela mesma ordem de Deus a fim de serem destruídos pelo fogo” (2Pe 3.7, NTLH). Quando o cálice da indignação de Deus se encher pela última vez, o que vai acontecer com o planeta não pode ser comparado com a tragédia destes dias envolvendo as cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro.



No entanto, ninguém ouse pensar que as vítimas de Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis eram mais pecadoras que nós. Eles e nós precisamos de arrependimento e conversão!



Elben M. Lenz César é diretor-fundador da Editora Ultimato e redator da revista Ultimato.


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