"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."

Agostinho de Hipona



domingo, 5 de setembro de 2010

A Igreja como um “Corpo”

Muitas pessoas hoje acham difícil compreender o sentido de identidade cristã como um “corpo”. Estamos tão mergulhados no individualismo da cultura ocidental moderna que nos sentimos ameaçados diante da idéia de que a nossa identidade primária seja a da família à qual pertencemos – especialmente quando a família em questão é muito ampla, estendendo-se através do tempo e do espaço.

A Igreja não é simplesmente um ajuntamento de pessoas, cada uma buscando seu próprio caminho de crescimento espiritual, sem que haja qualquer tipo de relacionamento entre elas. Ela até pode às vezes parecer ou dar a impressão de ser algo assim. É verdade que Deus chama cada um de nós de forma pessoal. Você pode tentar se esconder nas sombras do fundo da Igreja por um tempo, porém mais cedo ou mais tarde terá de tomar uma decisão.

Precisamos, no entanto, aprender (tomado a imagem paulina do “corpo de Cristo”) que a mão não é menor por ser parte de um todo maior, o corpo inteiro. O pé não tem sua liberdade diminuída como pé por fazer parte de um corpo que também contém olhos e ouvidos. Na verdade, mãos e pés desfrutam de maior liberdade quando estão em harmonia com olhos, ouvidos e as demais partes do corpo. Cortá-los como forma de garantir a liberdade de cada um seria um verdadeiro desastre.

Em particular, seria negar o propósito real para o qual a Igreja foi chamada a existir. De acordo com os cristãos primitivos, a Igreja não existe a fim de prover um lugar para as pessoas cumprirem suas agendas espirituais particulares ou desenvolverem seu próprio potencial espiritual. Também não é um refugio seguro onde as pessoas podem se esconder da maldade do mundo e garantir que chegarão a salvo ao destino celestial. Em ultima análise, o crescimento espiritual e a própria salvação vêm como consequência do propósito principal e mais elevado para o qual Deus tem nos chamados.

O propósito de Deus, colocado de forma clara em várias passagens no Novo Testamento, é anunciar ao mundo, através da Igreja, que Ele é de fato seu sábio, amoroso e justo Criador; que através de Jesus os poderes que corrompem e escravizam o mundo foram derrotados e que ele está agindo, através de seu Espírito, para curar e renovar o mundo.

Em outras palavras, a igreja existe em função daquilo que por vezes chamado de “missão”, ou seja, anunciar ao mundo que Jesus é o Senhor. Estas são as “boas novas” que, quando anunciadas, transformam as pessoas e as sociedades. ”Missão”, em termos gerais ou específicos, é a razão de ser da igreja. Deus quer endireitar o mundo, e para isso colocou em prática esse dramático projeto através de Jesus. Aqueles que pertencem a Jesus são chamados, aqui e agora, para serem agentes desse propósito divino, pelo poder do Espírito Santo. A palavra “missão” vem do latim “enviado”: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21), disse Jesus depois de ter ressuscitado.

[...] desde o início, Jesus ensinou que todos aqueles que são chamados para falar do amor restaurador de Deus e endireitar o mundo devem ser pessoas cujas vidas foram restauradas por meio desse mesmo amor. Os mensageiros devem viver aquilo que pregam. Assim, apesar de o chamado de Deus à Igreja ser para missões, os missionários – ou seja, todos os cristãos – se consideram pessoas que têm sido endireitadas.

Texto retirado do Livro: Simplesmente Cristão – Porque o Cristianismo faz Sentido de N. T. Wright – Editora Ultimato.   

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