"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."

Agostinho de Hipona



segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Apenas um vaso de barro - João Calvino (1509-1564)

2Co4.7 - Temos, porém, este tesouro. Quem ouvisse Paulo ostentar de forma tão extremada a excelência de seu ministério, e visse ao contrário quão ignóbil e abjeto era ele aos olhos do mundo, concluiria que sua ostentação era infantil e em si mesma estulta e ridícula, uma vez que baseavam seu julgamento na insignificância de sua pessoa externa. Os ímpios, especialmente, se aferravam a este fato como um pretexto que corroborava para que lançassem tudo sobre Paulo com desprezo. Porém, com a maior habilidade, ele revertia em maior triunfo as mesmas coisas que aos olhos dos ignorantes pareciam mais degradar do que glorificar seu apostolado. Primeiramente, ele se utiliza da metáfora do tesouro que geralmente não é guardado numa caixa esplêndida e ricamente decorada, senão que é depositado em algum recipiente vulgar, sem qualquer atrativo. Ele, então, adiciona que é assim que o poder de Deus é mais sublimemente glorificado e mais claramente percebido.


É como se dissesse: "Os que usam o aviltamento de minha pessoa como escusa para denegrir a honra de meu ministério, são juízes injustos e irracionais, porque um tesouro não se torna menos valioso por ser depositado num recipiente sem qualquer valor. De fato, esta é uma prática muito comum, pois grandes tesouros têm sido guardados em potes de cerâmica. Dessa forma, eles não compreendiam que as coisas foram tão bem ordenadas pela providência especial de Deus, de modo que nos ministros não deve haver qualquer aparência de excelência, a fim de que nenhuma grandeza propriamente sua obscureça o poder de Deus. Portanto, uma vez que a condição abjeta dos ministros, e a insignificância externa de suas pessoas, propiciam ocasião de Deus receber maior glória, é insensato e errôneo medir a dignidade do evangelho pela pessoa dos que o pregam." Porém, aqui Paulo está falando não apenas da condição dos homens, em geral, mas está avaliando a sua própria situação pessoal, embora seja verdade que todos os mortais não passam de vasos de barro. Tome-se o mais eminente dos homens que se puder encontrar, alguns maravilhosamente dotados de todos os dotes de berço, como intelecto e fortuna, mesmo que seja ele um ministro do evangelho, não passará de um indigno e terreno depositário de um inestimável tesouro. Não obstante, Paulo está pensando em si mesmo e em seus associados, os quais eram frequentemente tratados com desdém precisamente porque nada possuíam de externo para exibirem.

2Co4.8. Embora sejamos premidos de todos os lados. Isto é adicionado à guisa de explicação, com o fim de mostrar que a sua condição abjeta, longe de denegrir a glória de Deus, antes servia para promovê-la. "Porque", diz ele, "somos reduzidos a humilhação, mas, por fim, o Senhor abre uma via de escape; somos oprimidos com pobreza, mas o Senhor vem em nosso socorro. Muitos inimigos estão de mãos dadas contra nós, mas na proteção do Senhor estamos seguros. Noutras palavras, ainda que sejamos reduzidos a nada, ao ponto que todos pareçam superiores a nós, contudo não pereceremos." A última possibilidade mencionada, de todas é a mais séria. Veja-se como reverte ele em vantagem todas as acusações que os ímpios lhe assacavam.


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