"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."

Agostinho de Hipona



terça-feira, 18 de maio de 2010

O sentido de ser povo de Deus

Estamos caminhando na fantástica leitura do livro de Deuteronômio. Esse livro destaca a dimensão prática e cotidiana da vida de fé após a grande experiência de libertação que o Senhor promoveu entre os israelitas, tirando-os da tirania da escravidão imposta pelos egípcios.  

O livro responde à pergunta mais fundamental que nós cristãos devemos fazer a cada momento da nossa vida. A questão é: que implicação a redenção provida por Cristo tem para a minha vida nesse lugar e nesse momento?

No livro de Deuteronômio, a redenção é vivida no dia-a-dia da vida e é nessa experiência de se viver a fé no dia-a-dia, que o povo de Israel é retratado de forma honesta, sem hesitação alguma, descrevendo-se os pecados dos seus líderes e os pecados do próprio povo. A eleição é ato vocacional ou missional no qual Israel deve servir ao Senhor da aliança. O chamado desse povo deve servir como um testemunho comunitário, manifestando o governo de Deus em sua existência corporativa. 

A noção de um povo escolhido por Deus jamais deveria ser usada para reivindicar-se superioridade sobre as demais nações, mas sim como um chamado para o serviço. Lembremo-nos que Deus julga o seu próprio povo e em muitas ocasiões, sendo mais duro com eles do que com as outras nações. Veja, por exemplo, o que Deus diz ao seu povo por meio do profeta Amós: “De todas as famílias da terra, somente a vós outros vos escolhi; portanto, eu vos disciplinarei por todas as vossas iniqüidades” (Amós 3.2). 

A inter-relação de eleição e missão implica a conseqüência de que os eleitos são responsabilizados a Deus para os propósitos do próprio Deus. Em Deuteronômio 7.6-11, por exemplo, o típico anúncio de que Deus escolhe um povo é imediatamente seguido por um chamado à humildade. É evidente que isso não resolve a questão do por que esse povo foi escolhido por Deus. 

Contudo, o que esse ato de escolher faz é chamar a atenção ao mistério do amor de Deus. Ao guardarem o coração do pecado do orgulho, o escritor de Deuteronômio lembra aos israelitas que o chamado à existência como povo de Deus foi unicamente um ato gracioso de Deus. Israel não teve contribuição alguma para esse ato divino. Somente uma fonte de motivação para esse ato explica o livramento de Israel da escravidão para a liberdade: o amor e a fidelidade de Deus às promessas feitas aos ancestrais dos israelitas.
 
Quais as implicações desse quadro para a vida da nossa igreja local? Precisamos nos compreender em termos do livro de Deuteronômio, pois ele nos provê uma interpretação do ministério e da missão do povo de Deus, assim como proveu para Jesus Cristo e a própria comunidade de discípulos que viveu em torno do Mestre.

A revelação bíblica afirma em sua totalidade que o propósito redentivo de Deus é executado por meio do chamado de um povo em particular, uma tribo entre todas as tribos da terra. Nós, como igreja de Cristo, que resultamos do evento e da pessoa de Jesus Cristo, não podemos nos conceber como uma associação voluntária de pessoas que acordam em torno de certas convicções sobre Deus. Precisamos compreender e viver pelo fato de que temos vindo à existência pelos atos poderosos de Deus e essa atividade do Criador brota da pura graça dEle e precede qualquer compreensão humana e aceitação de suas implicações.

Enquanto éramos escravos do nosso próprio Egito, vivendo em um cativeiro degradante sem fé e esperança, Deus estendeu a mão para nos resgatar. Ele nos tirou da escravidão e nos colocou na terra do descanso que Deus escolheu para o seu povo. Por meio de Cristo, eu e você somos colocados face a face com o Pai, e assim como Ele, lá no deserto, convidou os israelitas a compreenderem e aceitarem o significado e o sentido da vida deles como povo, nos convida hoje: “Vocês viram o que fiz aos egípcios e como trouxe vocês a mim como que sobre asas de águias! Pois bem. Agora, se derem cuidadosa atenção ao que digo, e cumprirem os termos da minha aliança, vejam que bênçãos! Serão minha propriedade particular dentre todos os povos. Toda a terra é minha, mas vocês serão minha propriedade especial. Serão um reino de sacerdotes meus, uma nação santa.” (Êxodo 19.4-6).
 
Deus nos chama para um relacionamento de comunhão com Ele e uns com os outros para o servirmos e cumprirmos os seus propósitos redentores.

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