"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."

Agostinho de Hipona



sábado, 7 de janeiro de 2012

O valor das pessoas (as ovelhas)

Tendo com base a narrativa estabelecida em Atos 20:28-35, na qual o Apóstolo Paulo exorta aos presbíteros efésios quanto a si mesmos e às suas ovelhas, [...] É bom notar que ao desenvolver a metáfora pastoral, Paulo descreveu o seu próprio ministério (como o “pastor” deles), alertou-os contra os falsos mestres (“lobos”) e afirmou os valor dos membros de sua igreja (o “rebanho” de Deus) [...]

[...] Notamos que os pastores efésios devem primeiro vigiar a si mesmos, e só depois ao rebanho que lhes foi confiado pelo Espírito Santo. Pois eles não podem dar um cuidado adequado aos outros se negligenciarem o cuidado e a instrução de suas próprias almas. Eles devem “pastorear” a igreja de Deus; poinomaino, em termos gerais, significa “cuidar” de um rebanho e, em específico, “levar um rebanho ao pasto para alimentá-lo”. Essa é a primeira tarefa dos pastores. “Não apascentarão os pastores as ovelhas? (Ez. 34:2) E se os pastores se lembrarem que seu rebanho é a igreja de Deus, a qual  Ele comprou com o Seu próprio sangue, então, serão mais diligentes em seu próprio ministério. [...]

[...] no versículo 28, está implícita a verdade de que a supervisão pastoral da igreja, em última análise, pertence a Deus. De fato, cada uma das três pessoas da Trindade tem sua parte nessa supervisão. Para começar, a igreja é a “igreja de Deus”. Depois, que entendamos que Ele a redimiu “com o Seu próprio sangue” ou “com o sangue de Seu próprio”[i], é claro que a transação foi paga com o sangue de Cristo. E o Espírito Santo designa supervisores para essa igreja que pertence a Deus e foi comprada por Cristo. Assim, a supervisão também é dEle, caso contrário Ele não poderia delega-la a outros. Essa esplêndida afirmação trinitária, de que a supervisão pastoral da igreja pertence a Deus (Pai, Filho e Espírito Santo), deveria ter um profundo efeito nos pastores. 

Ela deveria nos humilhar, lembrando-nos que a igreja não é nossa, mas de Deus. E ela deveria inspirar-nos fidelidade.  Pois as ovelhas não são, de modo algum, aquelas criaturas limpas e doces que aparentam ser. Na verdade são sujas, sujeitas a doenças desagradáveis, sendo preciso banhá-las regularmente em remédios fortes para livrá-las de piolhos, carrapatos e vermes. Elas também são geniosas, obstinadas e pouco inteligentes. Hesito em aplicar essa metáfora ao pé da letra, dizendo que o povo de Deus é sujo, piolhento ou estúpido! Mas algumas pessoas são uma grande provação para seus pastores (e vice-versa). E seus pastores só vão perseverar em cuidar delas se lembrarem como elas são valiosas para Deus. 

Elas são o rebanho de Deus o Pai, compradas pelo precioso sangue de Deus o Filho, e supervisionadas por pessoas indicadas por Deus o Espírito Santo. Se as três pessoas da Trindade se empenham tanto pelo bem-estar do Seu povo, não deveríamos fazer o mesmo?

O grande livro de Richard Baxter, The Reformed Pastor (1956), é uma exposição de Atos 20:28. Ele escreveu:

Ouçamos, então, esse argumento de Cristo, toda vez que sentimos que estamos ficando insensíveis e descuidados: “Morri  por eles, e não olhareis por eles? Valiam eles o meu sangue, e não valem o vosso trabalho? Desci dos céus para a terra para buscar e salvar ao que estava perdido; e não ireis vós até a casa ao lado, a próxima rua, a próxima aldeia, para procurá-los? Quão pequeno é o vosso trabalho e condescendência comparado ao meu? Eu me rebaixei a esse ponto, mas é vossa honra serdes assim empregados. Sofri e fiz tanto pela salvação deles; e desejava fazer de vós meus cooperadores, e recusais o pouco que está em vossas mãos?



[i] Esse sentido de ídios (“próprio”), escreve F. F. Bruce, “é bem atestado pelos papiros, onde é ‘usado desse modo, como termo carinhoso em referência a parentes próximos’ ”. (Bruce, English, p. 416, nota 59; Bruce está citando J. H. Moulton, Grammar of New Testament Greek, (Edinburgh, 1906), p. 90) 

Texto extraído da série A Bíblia Fala Hoje, A Mensagem do Atos, Até os Confins da Terra, John Stott

Um comentário:

  1. Estou lendo Atos e acompanhando com o comentário de John Stott. Também me chamou a atenção o trecho de Richard Baxter que é atual e muito bom para todos refletirmos!! Mas notei que na postagem está escrito 1956, em vez de 1656 que é a data correta.

    CybeleMoraes

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