"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."

Agostinho de Hipona



sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O compromisso com o testemunho do evangelho


O apóstolo Paulo menciona três disposições inabaláveis do seu coração em relação ao evangelho: "Eu estou pronto" (Rm 1.14); "eu sou devedor" (Rm 1.15) e "eu não me envergonho" (Rm 1.16). Temos aqui três verdades: A obrigação do evangelho: "sou devedor"; a dedicação ao evangelho: "estou pronto"; e a inspiração do evangelho: "não me envergonho". Vamos examinar esses três compromissos com o evangelho. 

Em primeiro lugar, eu estou pronto a pregar o Evangelho (Rm 1.14). A demora de Paulo em ir a Roma não era falta de desejo do apóstolo, mas impedimentos circunstanciais alheios à sua vontade. Esse atraso, na verdade, enquadra-se no sábio arbítrio de Deus, pois resultou na escrita desta epístola, que tem merecido o encômio de ser "o principal livro do Novo Testamento e o evangelho perfeito". Paulo sempre esteve pronto a pregar. Ele pregava em prisão e em liberdade; nas sinagogas e nas cortes; nos lares e nas praças. Pregava em pobreza ou com fartura. Ele chegou a dizer: "ai de mim, se não pregar o evangelho" (1Co 9.16). Pregar o evangelho era a razão da sua vida.

Em segundo lugar, eu sou devedor do Evangelho (1.15). Há duas maneiras de alguém se endividar. A primeira é emprestando dinheiro de alguém; a segunda é quando alguém nos dá dinheiro para uma terceira pessoa. É no segundo caso que Paulo se refere aqui. Deus havia confiado o evangelho a Paulo como um tesouro que ele tinha que entregar em Roma e no mundo inteiro. Ele não podia reter esse tesouro. Ele precisava entregá-lo com fidelidade. Deus nos confiou sua Palavra. Ele nos entregou um tesouro. Precisamos ir e anunciar. Sonegar o evangelho é como um crime de apropriação indébita. O evangelho não é para ser retido, mas para ser proclamado. Ninguém pode reivindicar o monopólio do evangelho. A boa nova de Deus é para ser repartida. É nossa obrigação fazê-la conhecida de outros. Proclamar este evangelho em todo o mundo e a toda criatura não é questão de sentimento ou preferência; é uma obrigação moral; é um dever sagrado. 

Em terceiro lugar, eu não me envergonho do Evangelho (1.16). Paulo se gloria no evangelho e considera alta honra proclamá-lo. Ao considerarmos, porém, todos os fatores que circundavam o apóstolo, nós poderíamos perguntar: Por que Paulo seria tentado a envergonhar-se do evangelho ao planejar sua viagem para Roma? Porque o evangelho era identificado com um carpinteiro judeu que fora crucificado. Porque naquela época como ainda hoje os sábios do mundo nutriam desprezo pelo evangelho. Porque o evangelho, centralizado na cruz de Cristo, era visto com desdém tanto pelos judeus como pelos gentios. Porque pelo evangelho Paulo já havia enfrentado muitas dificuldades. Porém, a despeito dessas e outras razões, Paulo pode afirmar, com entusiasmo: "Porque não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1.16). 

Hoje há três grupos bem distintos: Primeiro, aqueles que se envergonham do evangelho. Segundo, aqueles que são a vergonha do evangelho. Terceiro, aqueles que não se envergonham do evangelho. Em quais desses grupos você se enquadra? Qual tem sido o seu compromisso com a proclamação do evangelho? Que Deus desperte sua igreja, para que como um exército poderoso, cheio do Espírito Santo, se levante para proclamar com fidelidade o evangelho da graça. Pregar outro evangelho ou sonegar o evangelho é um grave pecado; porém, anunciar o evangelho, é o maior de todos os privilégios!

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A informação que corrompe versus a fé vem pelo ouvir


Há quem diga que o ser humano é o que pensa. Se o ser humano não é o que pensa, certamente, age do que pensa, e pensa do que ouve. Na fala em Mt 16.5-12, Jesus diz que é necessário tomar cuidado com o que se ouve.

É curioso, mas, agimos muito mais pelo que ouvimos, do que pelo que vemos ou constatamos. Talvez, porque ver exija sincronização, a pessoa teria de estar, de alguma forma, no local, no momento do ocorrido; etalvez porque constatar demande muito trabalho.

“A fé vem pelo ouvir”, disse Paulo (Rm 10.17). A fé verdadeira vem de ouvir da Palavra de Deus. Mas a história humana dá conta de que, para o ser humano desenvolver crença, basta ouvir; o que coloca um peso de responsabilidade incomensurável sobre quem fala.

Tudo, nos diz a Bíblia, nasce da palavra, e, como se comprova na história, pelas falas a sociedade é construída.

Jesus sabia que os humanos são ávidos por informação. Não pela informação em si, mas, pelo poder que saber mais do que o outro confere ao informado. O tal desejo de ser como Deus (Gn 3.5). Mas todo aquele que deseja o poder predispõe-se a cair em ciladas (1 Tm 6.9).

Deve ser por isso que Jesus adverte seus alunos a se acautelarem das doutrinas dos fariseus e dos saduceus. Pois, não dá para imaginar que tais doutrinas, e tais doutrinadores pudessem competir com os ensinos e a maestria de Jesus.

Jesus, todavia, sabia que o ser humano é corruptível. Jesus sabia que a má informação, corrompe. Jesus sabia, também, que a palavra que corrompe é a palavra que foi corrompida. Jesus sabia que mesmo a palavra vinda de Deus poderia ser corrompida.

Interessante, os saduceus e os fariseus representavam extremos da fé judaica. Os saduceus aceitavam parte da Bíblia, os fariseus aceitavam a Bíblia toda. Os saduceus enfatizavam as atividades no templo como o cerne da fé; os fariseus enfatizavam o moralismo como cumprimento da lei. Ambos, porém, ensinavam o erro. Os saduceus não viram que os sacrifícios falavam da necessidade do sacrifício definitivo; os fariseus não viram que a lei apontava para a necessidade de haver um salvador.

No erro, os extremos se encontravam e se tornavam uma coisa só: informação que corrompe. Como distinguir que laboravam em erro, se eram, entre si, opostos, de tão distantes e antitéticos? Eles se encontravam na incapacidade de reconhecer o Cristo e de fazer o Cristo reconhecido.

Continua assim: todo ensino que, pretensamente, nascido da Bíblia, não reconheça o Cristo, que é o sacrifício que nos traz a salvação, e o esvaziamento e a doação que nos estabelece o padrão para viver, e não aponte o Cristo como o centro da fé, se tornou informação que corrompe.

Nota: artigo publicado originalmente no blog do autor.

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Ariovaldo Ramos é escritor, articulista e conferencista sobre a missão da igreja. Foi presidente da AEVB (Associação Evangélica Brasileira), missionário da SEPAL. Atualmente é presidente da Visão Mundial no Brasil e um dos presbíteros da Comunidade Cristã Reformada, em São Paulo (SP). 

sábado, 3 de agosto de 2013

Piruetas, coreografias e o Espírito Santo

Quando eu pensei que já tinha escutado todos os argumentos em favor das piruetas e coreografias que “evangélicos” fazem durante o culto, me deparei com esta: quando o Espírito desceu em Pentecostes sobre os apóstolos, eles se comportaram como bêbados, pulando, dançando, caindo e girando, pois foi esta a impressão que a multidão teve: “Todos, atônitos e perplexos, interpelavam uns aos outros: Que quer isto dizer? Outros, porém, zombando, diziam: Estão embriagados” Atos 2.12-13.

Então, tá. Mas, será que foi isto mesmo o que ocorreu? 

Estes dois versículos expressam as diferentes opiniões da multidão sobre o aquele fato estranho, que homens incultos estavam falando em idiomas das diversas nações ali representadas.


Um parte da multidão estava confusa, sem saber como pessoas ignorantes podiam fazer aquilo. Eles estavam realmente intrigados com o ocorrido e abertos para ouvir a explicação que Pedro haveria de dar em seguida, em seu sermão.

Mas, uma parte da multidão era de zombadores, gente que não percebeu a seriedade do que estava acontecendo. E zombando, disseram que os apóstolos estavam bêbados, isto é, dizendo coisas sem sentido como os bêbados costumam dizer. Era esta a explicação que eles acharam para o fenômeno.
Algo semelhante ao que Paulo diz, que se um incrédulo entrar na igreja quando todos estiverem falando em línguas ao mesmo tempo, ele vai dizer que estão loucos – algo perto de bêbados (1Co 14.23). 

Os zombadores disseram que eles estavam bêbados não porque eles estavam, como alguns bêbados, cantando, dançando, caindo, girando, gesticulando, pulando, mas porque estavam falando coisas incompreensíveis, palavras sem sentido – para os zombadores.
Não tinha nada a ver com a postura e comportamento deles, mas com as coisas que estavam dizendo.

Portanto, não faz o menor sentido usar a opinião dos zombadores de Pentecostes para justificar que hoje os crentes, cheios do Espírito, dançam, pulam, caem, giram, gritam.

Na verdade, Paulo diz, “não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espirito” (Ef 5.18), o que prova que ser cheio do Espírito é exatamente o contrário do comportamento de bêbados.

”Errais, não conhecendo as Escrituras e nem o poder de Deus” (Jesus)