"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."

Agostinho de Hipona



sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Um alerta solene à igreja

Hoje é o primeiro dia do ano de 2012. É tempo de balanço, de reflexão, de tomada de decisões. É tempo de despojarmo-nos daquilo que foi apenas peso e comprometermo-nos com princípios e valores que deixamos para trás. Muito embora tenhamos recebido bênçãos sem medida, e todas como expressão da graça de Deus, reconhecemos que a igreja poderia ter sido mais santa, mais unida, mais operosa, mais dinâmica, mais alegre, mais cheia do Espírito Santo. O importante agora é avaliarmos onde falhamos e fazermos uma correção de rota para não repetirmos os mesmos erros e para buscarmos, com afinco, aquilo que deixamos de fazer. Cabe-nos, alinharmos nossas ações com os preceitos da Palavra, e vivermos de modo digno do Evangelho neste novo ano que recebemos. Para isso, três atitudes devem ser observadas:

1. Precisamos fugir do secularismo que mundaniza a igreja. O secularismo é uma realidade inegável. É a ideia de que Deus não interfere em todas as áreas da nossa vida. No domingo somos crentes; durante a semana vivemos a vida do nosso jeito e ao nosso gosto. O que vemos, ouvimos, falamos, fazemos ou deixamos de fazer não é mais regido pelos preceitos das Escrituras. Dicotomizamos a vida em secular e sagrado. Assim, namoro, casamento, negócios e lazer pertencem a área do secular e nessas áreas amoldamo-nos aos ditames do mundo e não aos preceitos da Palavra. Nossas festas, embora precedidas por um culto a Deus, estão se tornando cada vez mais mundanas, onde não faltam bebidas alcoólicas, músicas profanas, danças sensuais, e todos os apetrechos importados das boates mais especializadas no lazer mundano. O mundo está entrando na igreja e a igreja está se amoldando ao mundo. Colocamos o pé no freio ou a igreja será sal sem sabor e luz debaixo do alqueire. Voltamo-nos para Deus para consagrar todas as áreas da nossa vida a ele ou a igreja perderá seu poder, seu testemunho e sua relevância no mundo. 

2. Precisamos fugir do legalismo que oprime a igreja. O legalismo é um caldo mortífero que adoece a igreja em nome da verdade. Os legalistas coam mosquito e engolem camelo. Brigam por aquilo que é secundário e transigem com aquilo que é essencial. Em nome do zelo espiritual ferem pessoas, perturbam a paz e quebram os vínculos da comunhão. Os legalistas agem como os fariseus que acusavam Jesus de pecado por curar no dia de sábado, mas não viam seus próprios pecados quando tramavam a morte de Jesus no sábado. Os legalistas são aqueles que reputam a sua interpretação das Escrituras como infalível e atacam como os escorpiões do deserto aqueles que discordam da sua visão extremada, chamando-os de hereges. O legalismo é fruto do orgulho e desemboca na intolerância. Em nome da verdade, sacrifica a própria verdade e insurge-se contra o amor. O legalismo é reducionista, uma vez que repudia todos aqueles que não olham para a vida pelas suas lentes embaçadas. O legalismo professa uma ortodoxia morta; uma ortodoxia sem amor e sem compaixão. Não podemos caminhar por essa estrada. Aqueles que o fizeram no passado colheram frutos amargos. Acautelemo-nos! 

3. Precisamos fugir do liberalismo e do sincretismo que atacam a igreja. O liberalismo tira da Escritura o que nela está e o sincretismo acrescenta a ela o que nela não pode estar. O liberalismo nega a inerrância e a infalibilidade da Escritura e o sincretismo nega a suficiência da Escritura. A igreja de Deus é aberta a todos, mas não aberta a tudo. Devemos acolher as pessoas sem acepção, mas não podemos abrigar tudo sem exceção. As pessoas devem ser aceitas na igreja; não o pecado. Não podemos tolerar o erro. Não podemos transigir com falsas doutrinas. Não podemos fazer vistas grossas aos falsos ensinos. Não podemos abrir nossas portas às novidades do mercado da fé. Não podemos transigir com a verdade para atrair pessoas à igreja. Não podemos negociar princípios e valores para buscarmos o crescimento da igreja. Nosso compromisso é alimentar as ovelhas e não entreter os bodes. Que Deus nos ajude a caminharmos vitoriosamente em 2012!


sábado, 7 de janeiro de 2012

O valor das pessoas (as ovelhas)

Tendo com base a narrativa estabelecida em Atos 20:28-35, na qual o Apóstolo Paulo exorta aos presbíteros efésios quanto a si mesmos e às suas ovelhas, [...] É bom notar que ao desenvolver a metáfora pastoral, Paulo descreveu o seu próprio ministério (como o “pastor” deles), alertou-os contra os falsos mestres (“lobos”) e afirmou os valor dos membros de sua igreja (o “rebanho” de Deus) [...]

[...] Notamos que os pastores efésios devem primeiro vigiar a si mesmos, e só depois ao rebanho que lhes foi confiado pelo Espírito Santo. Pois eles não podem dar um cuidado adequado aos outros se negligenciarem o cuidado e a instrução de suas próprias almas. Eles devem “pastorear” a igreja de Deus; poinomaino, em termos gerais, significa “cuidar” de um rebanho e, em específico, “levar um rebanho ao pasto para alimentá-lo”. Essa é a primeira tarefa dos pastores. “Não apascentarão os pastores as ovelhas? (Ez. 34:2) E se os pastores se lembrarem que seu rebanho é a igreja de Deus, a qual  Ele comprou com o Seu próprio sangue, então, serão mais diligentes em seu próprio ministério. [...]

[...] no versículo 28, está implícita a verdade de que a supervisão pastoral da igreja, em última análise, pertence a Deus. De fato, cada uma das três pessoas da Trindade tem sua parte nessa supervisão. Para começar, a igreja é a “igreja de Deus”. Depois, que entendamos que Ele a redimiu “com o Seu próprio sangue” ou “com o sangue de Seu próprio”[i], é claro que a transação foi paga com o sangue de Cristo. E o Espírito Santo designa supervisores para essa igreja que pertence a Deus e foi comprada por Cristo. Assim, a supervisão também é dEle, caso contrário Ele não poderia delega-la a outros. Essa esplêndida afirmação trinitária, de que a supervisão pastoral da igreja pertence a Deus (Pai, Filho e Espírito Santo), deveria ter um profundo efeito nos pastores. 

Ela deveria nos humilhar, lembrando-nos que a igreja não é nossa, mas de Deus. E ela deveria inspirar-nos fidelidade.  Pois as ovelhas não são, de modo algum, aquelas criaturas limpas e doces que aparentam ser. Na verdade são sujas, sujeitas a doenças desagradáveis, sendo preciso banhá-las regularmente em remédios fortes para livrá-las de piolhos, carrapatos e vermes. Elas também são geniosas, obstinadas e pouco inteligentes. Hesito em aplicar essa metáfora ao pé da letra, dizendo que o povo de Deus é sujo, piolhento ou estúpido! Mas algumas pessoas são uma grande provação para seus pastores (e vice-versa). E seus pastores só vão perseverar em cuidar delas se lembrarem como elas são valiosas para Deus. 

Elas são o rebanho de Deus o Pai, compradas pelo precioso sangue de Deus o Filho, e supervisionadas por pessoas indicadas por Deus o Espírito Santo. Se as três pessoas da Trindade se empenham tanto pelo bem-estar do Seu povo, não deveríamos fazer o mesmo?

O grande livro de Richard Baxter, The Reformed Pastor (1956), é uma exposição de Atos 20:28. Ele escreveu:

Ouçamos, então, esse argumento de Cristo, toda vez que sentimos que estamos ficando insensíveis e descuidados: “Morri  por eles, e não olhareis por eles? Valiam eles o meu sangue, e não valem o vosso trabalho? Desci dos céus para a terra para buscar e salvar ao que estava perdido; e não ireis vós até a casa ao lado, a próxima rua, a próxima aldeia, para procurá-los? Quão pequeno é o vosso trabalho e condescendência comparado ao meu? Eu me rebaixei a esse ponto, mas é vossa honra serdes assim empregados. Sofri e fiz tanto pela salvação deles; e desejava fazer de vós meus cooperadores, e recusais o pouco que está em vossas mãos?



[i] Esse sentido de ídios (“próprio”), escreve F. F. Bruce, “é bem atestado pelos papiros, onde é ‘usado desse modo, como termo carinhoso em referência a parentes próximos’ ”. (Bruce, English, p. 416, nota 59; Bruce está citando J. H. Moulton, Grammar of New Testament Greek, (Edinburgh, 1906), p. 90) 

Texto extraído da série A Bíblia Fala Hoje, A Mensagem do Atos, Até os Confins da Terra, John Stott