O tema merece uma pergunta: Quando é que a missão deixa de ser ação eventual para se tornar ação habitual?
Certamente, a resposta a essa questão não nos convida a intensificarmos as ações missionárias para que a missão se torne uma ação habitual. Intensificar as ações é deixar de considerar que a missão é o coração da vida da igreja. Se a igreja deixar de ser missionária, ela não somente terá fracassado em uma tarefa. Ela deixará de ser igreja. Missão será algo habitual, somente quando ela for um estilo de vida da igreja.
O missiólogo Newbigin, em seu livro O Evangelho em uma Sociedade Pluralista, coloca esse quadro na seguinte perspectiva: “A Igreja é o lócus e não o agente da missão.” Newbigin explica: “É Deus quem age no poder do seu Espírito, fazendo grandes obras, criando sinais de um novo tempo, operando secretamente nos corações de homens e mulheres para levá-los à Cristo.”
A missão é de Deus e esse conceito sustenta que missão é a iniciativa de Deus para com o mundo e a natureza essencial da igreja. Foi esse o sentido das palavras de Jesus aos seus discípulos, quando afirmou categoricamente, “como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21). Da mesma forma como o Pai enviou o Filho, e o Filho o Espírito, o Filho e o Espírito enviaram a igreja ao mundo.
Na Conferência de Lambeth (1998), afirmou-se o seguinte: “A missão é de Deus e vem de Deus. Missão é o meio pelo qual Deus ama e salva o mundo”. Como cristãos, nós respondemos a esse movimento do amor redentivo de Deus, que está em ação. O povo de Deus é chamado para engajar-se nesse movimento de servir a missão de Deus, vivendo e proclamando as boas novas. Não somos nós que temos uma missão. A missão de Deus nos possui.
Para nós, cristãos-reformados, a missão de Deus nos engaja em um movimento que visa a transformação do mundo. À medida que vamos respondendo ao chamado de Cristo, caminhando pelo caminho do seguimento, cremos que o poder e a ação do Espírito Santo vão clareando para nós a dinâmica dessa missão. O evangelho, a oração, o engajamento, a reflexão e a convivência são instrumentos de Deus para respondermos aos cenários do nosso próprio contexto urbano. Esse movimento é cotidiano, habitual, considerando a natureza dinâmica da própria fé cristã e da realidade sócio-cultural onde a mensagem será vivida e proclamada.
Fazer missão como ação habitual é considerar pelo menos três pontos vitais: ir, engajar-se e encarnar-se.
A igreja deve viver como povo enviado, e não somente como povo que envia. Enquanto a igreja permanece enviando pessoas para campos específicos para tipos específicos de ministérios, ela também vive como povo enviado no local onde, social e culturalmente, Deus a tem plantado.
A igreja deve ainda viver, participar e ministrar redentivamente em sua cultura. A maior parte dos cristãos tende a se retirar da cultura. Essa atitude enfraquece a efetividade na comunicação de Jesus aos grupos e pessoas que devem ser alcançadas com o poder do evangelho. É preciso reconhecer que a cultura deve mais nos desafiar do que nos distanciar. Lembremo-nos que o evangelho é visto como um poder autêntico de mudança de vida somente no contexto da cultura.
Finalmente, nós e o evangelho devemos estar encarnados onde vivemos. A dimensão da encarnação fala das peculiaridades e diferenças em cada contexto cultural específico. Uma igreja inserida no contexto metro-urbano é completamente diferente daquela que está estabelecida em contextos rurais. Em alguns casos, igrejas enfrentarão as mesmas questões com o Evangelho, mas em outros, o mesmo Evangelho trará redenção por caminhos completamente diferentes a questões diferentes. Ao invés de criarmos programas de abordagem padronizada, é necessário permitir que o Reino de Deus se apresente à comunidade por meio da igreja pelos caminhos que cada contexto cultural oferece.
Escrito por: Rev. Valter Moura
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