"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."

Agostinho de Hipona



domingo, 28 de agosto de 2011

Manifesto cristão



A maior parte do cristianismo evangélico hoje é fundamentado em clichês. A maior parte do nosso cristianismo vem de músicos que se dizem cristãos, e não da bíblia. A maior parte do que os evangélicos acreditam é ditado pela cultura secular e não pela escritura. 
Poucos são os que encontram a porta estreita. Consequentemente, as ideias mais populares possivelmente não são os conceitos mais próximos da verdade bíblica. Nos dias de hoje, desconfie de qualquer “Best-seller”. Desconfie de qualquer um que for sucesso ou um furacão de vendas, simplesmente porque a genuína verdade cristã jamais foi e nunca será “digerida” pelas massas. A maior prova disso, é que mataram o seu autor. Se caiu no gosto da maioria é falso. Lembre-se, Jesus se referiu aos seus verdadeiros seguidores como “pequenino rebanho”.
A apostasia que a Bíblia nos advertiu que seria evidente nos últimos dias já está em pleno andamento. Somente aqueles que se mantiverem firmes a Palavra de Deus serão protegidos e salvos. Este remanescente de crentes fiéis será visto como pessoas antiquadas e de mentalidade fechada. 
A natureza da salvação de Cristo é deploravelmente deturpada pelo evangelista moderno. Eles anunciam um Salvador do inferno ao invés de um Salvador do pecado. E é por isso que muitos são fatalmente enganados, pois há multidões que desejam escapar do Lago de fogo, mas que não têm nenhum desejo de ficarem livres de sua pecaminosidade e mundanismo. Sem santificação ninguém verá o Senhor.
Os Evangélicos modernos procuram encher suas igrejas de analfabetos bíblicos, convencendo-os que eles irão para o céu, simplesmente porque levantaram a mão e fizeram uma oração, como sinal de aceitação de Jesus como Salvador, e que Ele vai lhes dar o sucesso familiar, social e financeiro, se tiverem um nível de moralidade considerável e forem dizimistas fiéis; o que se constitui propaganda enganosa.
Muitos dizem não ter vergonha do evangelho, mas são uma vergonha para ele. A primeira geração de cristãos pós-modernos já está aí. São crentes que pouco ou nada sabem da Palavra de Deus e demonstram pouco ou nenhum interesse em conhecê-la. Cultivam uma espiritualidade egocêntrica, com nenhuma consciência missionária. Consideram tudo no mundo muito “normal” e não veem nenhuma relevância na cruz de Cristo. Acham que a radicalidade da fé bíblica é uma forma de fanatismo religioso impróprio e não demonstram nenhuma preocupação em lutar pelo que creem.
Você sabia que 80 á 90% das pessoas que “aceitam a Cristo” em trabalhos evangelísticos se “desviam” depois? O motivo de tudo isso tem sido esse evangelho centrado no homem que é pregado nos púlpitos, nas TVs e nas casas, onde o bem-estar e a prosperidade tem se tornado “mais valiosos” que o próprio sangue de Cristo. A graça já não basta mais (apesar dos louvores e acharmos Cristo tão meigo). O que nós realmente queremos é “o segredo” para sermos bem-sucedidos. Desejamos “uma vida com propósitos” para taparmos com peneira o vazio que sentimos. O Vazio de um espírito morto que somente Deus pode ressuscitar. Queremos “o melhor de Deus para nós” nesta vida, no lugar de tomarmos a nossa cruz e de negarmos a nós mesmos. Queremos conhecer “as leis da prosperidade” mais do que o Espírito de Santidade; e, para nos justificarmos, tentamos ser pessoas auto-motivadas e de alta performance, antes de sermos cristãos cuja alegria está em primeiro lugar Nele; e santos bem aceitos pelo mundo a despeito das Palavras de Jesus contrariar esse posicionamento.
A falha do evangelismo atual reside na sua abordagem humanista. Esse evangelho é francamente fascinado com o grande, barulhento, e agressivo mundo com seus grandes nomes, o seu culto a celebridade, a sua riqueza e sua pompa berrante. Para os milhões de pessoas que estão sempre, ano após ano, desejando a glória mundana, mas nunca conseguiram atingi-la, o moderno evangelho oferece rápido e fácil atalho para o desejo de seus corações. Paz de espírito, felicidade, prosperidade, aceitação social, publicidade, sucesso nos negócios, tudo isso na terra e finalmente, o céu. Se Jesus tivesse pregado a mesma mensagem que os ministros de hoje pregam, ele nunca teria sido crucificado. 
Hoje temos o espantoso espetáculo de milhões a ser derramado na tarefa de proporcionar irreligioso entretenimento terreno aos chamados filhos do céu. Entretenimento religioso é, em muitos lugares rápido meio de se esvaziar as sérias coisas de Deus. Muitas igrejas nestes dias tornaram-se pouco mais do que pobres teatros de quinta categoria onde se "produz" e mercadeja falsos “espetáculos” com a plena aprovação dos líderes evangélicos, que podem até mesmo citar um texto sagrado fora de contexto em defesa de suas delinquências. E dificilmente um homem se atreve a levantar a voz contra isso. 
A maioria dos crentes não acredita que a Bíblia diz o que está escrito: acreditam que ela diz o que eles querem ouvir. Contornar a Palavra de Deus e chamar os nossos desejos de direção divina, só leva à multiplicação do pecado. Há muitos vagabundos religiosos no mundo que não querem estar amarrados a coisa alguma. Eles transformaram a graça de Deus em libertinagem pessoal e muitas vezes coletiva. Se você crê somente no que gosta do evangelho e rejeita o que não gosta, não é no evangelho que você crê, mas, sim, em você mesmo. 
Ai de vocês que pregam seu falso evangelho, transformam a casa de Deus em comércio. Vendem seus CDs, vendem seus falsos milagres, vendem suas falsas unções, vendem falsas promessas de prosperidade, enquanto na verdade só vocês têm prosperado. Como escaparão do juízo que há de vir? 


"Ao ouvirem isso, muitos dos seus discípulos disseram: "Dura é essa palavra. Quem consegue ouvi-la?" Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele. E dizia: Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido." João 6:60;65-66

- Conteúdo adaptado a partir de algumas ideias e textos de diversos autores Cristãos.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Jesus, o remédio para uma igreja enferma



Alguns estudiosos da Bíblia, dentre as fileiras do Dispensacionalismo, afirmam que as setes igrejas da Ásia Menor são um símbolo dos sete períodos da história da igreja, assim classificados: Éfeso simboliza a igreja apostólica; Esmirna, a igreja dos mártires; Pérgamo, a igreja oficial dos tempos de Constantino; Tiatira, a igreja apóstata da Idade Média; Sardes, a igreja da Reforma; Filadélfia, a igreja das missões modernas e Laodicéia, a igreja contemporânea. Essa classificação, entretanto, não tem qualquer amparo histórico nem qualquer fundamentação bíblica. 

Jesus elogia duas dessas igrejas: Esmirna e Filadélfia, mesmo sendo a primeira pobre e a segunda fraca. Quatro delas recebem elogios e censuras: Éfeso, Pérgamo, Tiatira e Sardes. A última, Laodicéia, só recebe censuras e nenhum elogio. Algumas lições podemos aprender com essas igrejas:

1. Jesus conhece profundamente a sua igreja. Jesus está no meio da igreja e anda no meio dela. Para cinco dessas igrejas (Éfeso, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia) Jesus disse: “Eu conheço as tuas obras”. Para a igreja de Esmirna Jesus disse: “Eu conheço a tua tribulação” e a para a igreja de Pérgamo, Jesus disse: “Eu conheço o lugar onde habitas, onde está o trono de Satanás”. Jesus conhece as obras da igreja, os sofrimentos da igreja e o lugar onde a igreja está estabelecida.

2. Jesus não se impressiona com aquilo que impressiona a igreja. O diagnóstico de Jesus difere da nossa avaliação. O que nos impressiona, não impressiona a Jesus. À pobre igreja de Esmirna Jesus disse: “Tu és rica”; mas à rica igreja de Laodicéia Jesus disse: “Tu és pobre”. A riqueza de uma igreja não está na beleza do seu santuário nem na pujança de seu orçamento, mas na vida espiritual de seus membros. À igreja de Sardes que dá nota máxima para sua espiritualidade, julgando-se uma igreja viva, Jesus diz: “Tu estás morta”. À igreja de Filadélfia que tinha pouca força, Jesus diz: “Eu coloquei uma porta aberta diante de ti”.

3. Jesus não se contenta com doutrina sem amor nem com amor sem doutrina. Jesus elogia a igreja de Éfeso por sua fidelidade doutrinária, mas a reprova pelo abandono do seu primeiro amor. A igreja de Éfeso era ortodoxa, mas faltava-lhe piedade. Tinha teologia boa, mas não devoção fervorosa. Por outro lado, Jesus elogia a igreja de Tiatira pelo seu amor, mas a reprova pela sua falta de zelo na doutrina. A igreja tinha obras abundantes, mas estava tolerando o ensino de uma falsa profetisa. Não podemos separar a ortodoxia da piedade nem a doutrina da prática do amor.

4. Jesus sempre se apresenta como solução para os males da igreja. A restauração da igreja não está na busca das novidades do mercado da fé, mas em sua volta para Jesus. Ele é o remédio para uma igreja enferma, o tônico para uma igreja fraca e o caminho para uma igreja transviada. À igreja de Sardes, onde havia morte espiritual, Jesus se apresenta como aquele que tem os sete Espíritos de Deus, para reavivá-la. À igreja de Esmirna que enfrenta a perseguição e o martírio, Jesus se apresenta como aquele que venceu a morte. Jesus é plenamente suficiente para suprir as necessidades da sua igreja, plenamente poderoso para restaurar a sua igreja e plenamente gracioso para galardoar a sua igreja.

5. Jesus se apresenta à sua igreja para fazer alertas e também promessas. Para todas as igrejas Jesus faz solenes alertas e também generosas promessas. Andar pelos atalhos da desobediência é receber o chicote da disciplina e permanecer no pecado é receber o mais solene juízo. Mas permanecer na verdade é ser vencedor. Arrepender-se e voltar-se para Deus é receber do Filho de Deus as mais gloriosas promessas de bênçãos no tempo e na eternidade, na terra e no céu!






quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Escrituralismo: Uma Nova Visão Cristã


por W. Gary Crampton
Escrituralismo é uma visão do mundo e da vida. Cosmovisão é um conjunto de crenças sobre as várias questões da vida. Toda pessoa tem uma cosmovisão; é algo inescapável. A cosmovisão determinará como uma pessoa enxerga a totalidade da vida, as decisões que toma, por que age como age e assim por diante. Todas as cosmovisões apresentam pressuposições que governam seu sistema de crença; essas pressuposições funcionam como axiomas a partir dos quais todas as decisões são deduzidas. Escrituralismo é o sistema de crença em que a Palavra de Deus é fundacional na totalidade dos assuntos filosóficos e teológicos. Esse sistema de pensamento assevera que os cristãos jamais devem tentar combinar ideias seculares e cristãs. Antes, todo pensamento deve ser levado cativo à Palavra de Deus (2 Coríntios 10.5),  que é (parte de) a mente de Cristo (1 Coríntios 2. 16). Nossa mente deve ser transformada “para que experimente[mos] qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” tal como encontrada nas Escrituras (Romanos 12.2), i.e., nossos pensamentos devem se tornar progressivamente os pensamentos de Deus (Isaías 55.6-9), pensamentos divinos esses que são apenas conhecidos através da Palavra de Deus. O escrituralismo, então, ensina que todo o nosso conhecimento deve ser derivado da Bíblia, que tem um monopólio sistemático sobre a verdade.
Essa abordagem a uma cosmovisão cristã é en-sinada pelo apóstolo Paulo e confirmada pelos en-sinos dos Padrões de Westminster. Nas palavras do apóstolo: “Toda a Escritura é divinamente ins-pirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente ins-truído para toda a boa obra” (2 Timóteo 3.16-17). E na Confissão de Fé de Westminster (1:6) lemos: “Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a sal-vação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e cla-ramente deduzido dela; à Escritura nada se acrescentará em tempo algum”.
Observe os universais nessas duas declarações: “toda”, “perfeito”, “perfeitamente”, “toda”, “Todo”, “todas”, “nada”, “em tempo algum”. A Bíblia, infalivelmente, e a Assembleia de Westminster, em conformidade com a Bíblia, ensinam ambas a total suficiência das Escrituras. De acordo com o princípio reformado da sola Scriptura, nem a ciência nem a história nem a filosofia são necessárias para fornecer a verdade. De acordo com o escrituralista, nenhuma teoria de verdade de “duas fontes” é ensinada na Palavra de Deus. Como Paulo claramente afirma nos dois primeiros capítulos de 1 Coríntios, a sabedoria do mundo é loucura e o homem não é capaz de chegar ao conhecimento da verdade à parte das proposições escriturísticas reveladas pe-lo Espírito. Em 1 Coríntios 2.9-10, por exemplo, Paulo escreve: “Mas, como está escrito: ‘As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam’. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito”. A Bíblia é suficiente para a verdade que precisamos. É somente nas Escrituras que encontramos “a certeza das palavras da verdade” (Provérbios 22.17-21; veja também Lucas 1.4). Isso é escrituralismo.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O chamado dos gentios


por João Calvino

"Mas, desde o nascente do sol até ao poente, é grande entre as nações o meu nome; e em todo lugar lhe é queimado incenso e trazidas ofertas puras, porque o meu nome é grande entre as nações, diz o SENHOR dos Exércitos." Malaquias 1.11

Os profetas prometeram aos judeus que os gentios se juntariam a eles, conforme o faz Zacarias: “Naquele dia, sucederá que pegarão dez homens (…) na orla da veste de um judeu e lhe dirão: Iremos convosco, porque temos ouvido que Deus está convosco” (Zc 8.23). Seria, então, a mais alta honra para o povo judeu se tornar mestre de todas as nações, para as instruir na verdadeira religião. Assim também afirma Isaías que todos os que antes eram estranhos se tornariam discípulos do povo eleito, de maneira que se submeteriam de bom grado ao seu ensinamento. Mas visto que os judeus caíram do seu lugar, os gentios os sucederam e lhes ocuparam a posição. De acordo com isso foi que Cristo ameaçou os homens de seus dias: “o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos” (Mt 21.43). Aqui está claramente provado o chamado dos gentios, porque sem o ensinamento da verdade o nome de Deus não pode ser grandioso. Logo, é exatamente como se o profeta dissesse que a lei, que fora dada aos judeus, seria proclamada entre todas as nações.

Oração
Concede, ó Deus onipotente, que assim como não nos deixas hoje sob as sombras da lei, pela qual instruíste a descendência de Abraão, mas nos chamas para serviço muito mais excelente, para nos consagramos de corpo e alma como sacrifício a ti e oferecermos não só a nós mesmos, mas também sacrifícios de louvor e súplica; assim também consagres por meio de Cristo, teu Filho, todos os deveres religiosos que requeres de nós, — ó concede que busquemos a verdadeira pureza e lutemos para que o culto que te prestamos em sinceridade de coração seja aprovado por ti e assim possamos professar e invocar com reverência o teu nome, para que se saiba que em nós se cumpriu de fato o que declaraste pelo teu profeta: que certamente o teu nome será magnificado e celebrado por todo o mundo, assim como no-lo foi dado a conhecer na pessoa do teu Filho unigênito. Amém.


Fonte: Devotions and prayers of John Calvin, 52 one-page devotions with selected payers on facing pages. Org. Charles E. Edwards. Old Paths Gospel Press. S/d. Pags. 114 e 115. Tradução: Marcos Vasconcelos, junho/2010.


domingo, 7 de agosto de 2011

Uma visão cristã do trabalho


Para muitas pessoas, a espiritualidade é uma experiência dos domínios da alma e da privacidade. A modernidade conseguiu colocar muitos cristãos em um estado de isolacionismo cultural. E por esta causa, o cristianismo foi sendo excluído da esfera pública, da academia, do trabalho e do mundo chamado “secular”. 

A juventude cristã nasce em mundo onde o relativismo cultural e ético começa a ruir os valores considerados absolutos pelo cristianismo. O consumismo e a competição mercadológica são os ídolos da presente era, e massas são catequizadas nesta nova religião que alega mentirosamente uma “neutralidade” em termos de fé.

Definitivamente, sem um cristianismo robusto e uma visão de mundo que parta de uma fé sólida na centralidade de Cristo e seu Evangelho, nossa geração irá naufragar e acabará por dar um tratamento idólatra ao trabalho e à atividade cultural. Irá deificar estes aspectos importantes da Criação, ao invés de submetê-los a uma crítica cristã que reconheça o Senhorio de Jesus Cristo sobre todos os aspectos da vida.

Para muita gente, o trabalho continua sendo uma atividade cultural atrelada à maldição da queda. Mas, a verdade é que o trabalho existia sim, antes da queda, e era parte do “mandato cultural” dado ao homem de “cultivar” (no original “trabalhar”) o Jardim. O que a queda produz é uma alteração da relação do homem com o trabalho, que se antes era parte integrante de sua natureza, tornou-se penoso e exaustivo.

De fato, o mesmo termo que é usado para “trabalho/cultivo” em Gênesis, é usado em outros textos ligado à atividade dos sacerdotes no Tabernáculo. O interessante, neste detalhe linguístico, é que ele evidencia que o trabalho não é só uma atividade “cultural”, mas também “cultual”. O trabalho é uma liturgia, um serviço religioso que se não for para a glória de Deus, certamente será para o louvor de um ídolo.

Os cristãos reformados sempre consideraram o “trabalho” como um meio de glorificação a Deus. A diligência, o zelo, a ética e a criatividade protestante eram virtudes tão notórias, que mereceram destaque nas investigações do sociólogo Max Weber. Tais fiéis viviam sob o princípio de que toda ação criativa deveria ser Coram Deo, ou seja, “perante Deus”, no sentido de que Deus é o supremo pastor e suprema testemunha de todos os feitos humanos. Ou seja, trabalho é um altar onde Deus é cultuado.

Antes da queda, o homem foi comissionado àquela ação cultural que glorificasse a Deus, o que em algum sentido, era parte integrante de sua condição humana. Um cristão regenerado é feitura de Deus, recriado em Jesus Cristo para “boas obras” (Ef 2.10). Isto significa que em Cristo sua condição humana é restituída e ele é reintroduzido na Criação, e assim, este homem pode voltar à prática da glorificação de Deus por meio de seu trabalho.

É urgente uma retomada da visão cristã do trabalho, que não é apenas a do labor, mas de uma atuação cultural enraizada em Cristo, admitindo-o como Senhor sobre todas as ações criativas do cristão. Sem dúvida, uma visão do trabalho nestes termos libertaria o cristão do cativeiro imposto por cosmovisões não-cristãs, e o reintroduziria como jardineiro no mundo de Deus.

Igor Miguel é teólogo, pedagogo e mestrando em língua hebraica pela USP (Universidade Estadual de São Paulo). Membro da Associação Kuyper de Estudos Transdisciplinares (AKET), professor voluntário da Escola de Teologia e Espiritualidade Cristã do L'Abri, e membro da Igreja Esperança. Autor do blog Pensar (www.teologo.org)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O dia mau na vida do homem

“Tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau” Efésios 6:13
O que significa esse “dia mau”? Alguns dizem que á a vida inteira do cristão. Jacó, já à beira da morte, lamentou: “Poucos e maus foram os dias dos anos da minha vida” (Gn. 47.9). Cristo advertiu os discípulos: “No mundo passais por aflições” (Jo. 16.33). Mas este sofrimento generalizado é a porção de qualquer pessoa, afinal, todos nós somos herdeiros das conseqüências do pecado.

Contudo, no texto citado, o Apóstolo Paulo está indicando algo bem mais específico. É um dia que se distingue de todos os demais. Ele traz uma novidade, algo que os outros dias não apresentam, males como: desastres naturais (uma enchente destruindo a propriedade); desastres materiais (a casa sendo assaltada); desastres físicos (uma doença terminal); desastre final (a chegada do último inimigo, a morte vem para ceifar mais uma vida). Seja qual for a natureza específica desse momento, ele poderá ser suavizado como o devido preparo: “Tomai toda armadura de Deus, para que possais resistir (permanecer inabalável) no dia mau” (Ef. 3.13). Deus já providenciou os recursos necessários para que sejamos mais que vencedores no “dia mau”.

Vamos observar algumas características da visitação desse “dia mau”:

O “dia mau” é inescrupuloso, isto é, não tem pena de sua vítima. Seja qual for a natureza desse mal, ele vem para desorientar e machucar, não leva em conta os sentimentos de ninguém.

O dia, em si, não é pecado, ou seja, a pessoa que recebe esta visitação não se torna culpada de pecado. O pecado é sempre a transgressão da lei de Deus (1Jo. 3.4). O dia mau é algo que vem sobre nós involuntariamente e sem a nossa participação.  

Também devemos lembrar que esse dia mau, normalmente, não vem por cauda de um pecado específico que estamos abrigando em nossa vida. Entendemos que, para o cristão, o dia mau vem com a soberana permissão de Deus, e é por isso que Ele está presente conosco nestas aflições: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo” (Sl. 12.4).

Muitas vezes, esse “dia mau” é permitido para provocar uma manifestação da sinceridade da nossa fé. Nós vamos permanecer fiéis no meio da tribulação e glorificaremos a Deus, ou negaremos a fé a fim de nos livrarmos da aflição? Lembremo-nos de Jó.

Esse dia mau é permitido para nos fazer lembrar que este mundo é assim mesmo e, portanto, impróprio para a construção de esperanças permanentes. Abraão, sentindo a sua vulnerabilidade, “aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb. 11.10). De forma semelhante, sentindo a nossa insegurança, devemos buscar refúgio sob as asas do Deus poderoso, o Deus que envia o seu auxílio (Rt. 212; Sl. 57.3)

Uma outra característica a ser abordada é que o “dia mau” é inevitável, isto é, há de chegar, independente do nosso estado espiritual. Em Eclesiastes capítulo 8, versículo 8, está escrito: “Não há nenhum homem que tenha domínio sobre o vento para o reter; nem tão pouco tem ele poder sobre o dia da morte; nem há tréguas nesta peleja”. A morte é um temido exemplo de “dia mau”. Com o nosso nascimento, ela já foi anunciada: “E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, depois disso, o juízo” (Hb. 9.27). Devemos ter consciência da imutabilidade das determinações de Deus, porque Ele mesmo já se pronunciou: “Eu o disse, eu também o cumprirei; tomei este propósito, também o executarei” (Is. 46.11). Quando a ordem da morte é emitida, não há como resistir, temos de ir.

O “dia mau” é também inescusável, isto é, não há desculpas para justificar a nossa falta de preparo. Já fomos advertidos: haverá dias maus para cada pessoa, “Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau” (Ef. 6.13). Podemos meditar sobre esta necessidade em termos de dever e prudência:

O nosso próprio dever. A Bíblia ensina: “A sabedoria do prudente é entender o seu próprio caminho” (Pv. 14.8). Sabemos que dias maus nos aguardam, portanto, devemos estar preparados. A boa providência de Deus nos oferece inúmeras oportunidades para ficarmos prevenidos contra estas visitações negativas, e oportunidades são dadas a fim de serem aproveitadas. O escritor aos Hebreus exclamou: “Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?” (Hb. 2.3).

À luz da prudência. Eis a voz das Escrituras: “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim, como sábios, redimindo o tempo, porque os dias são maus” (Ef. 15-16). Este preparo para o “dia mau” é uma questão de prioridade. Devemos sentir uma urgência na exortação do Apóstolo Paulo: “Eis agora o tempo sobremodo oportuno, eis agora o dia da salvação” (2Cor. 6.2). É muito difícil e até impossível se vestir em pleno dia mau; achando-se nu, permanecerá nu e desabrigado. Não sabemos a hora da chegada. Portanto, devemos ser prudentes e nos preparar para aquele dia. “O choro de remorso por causa de oportunidades desperdiçadas não traz nenhum auxílio e nem consolo: Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau” (Ef. 6.13).

A própria experiência pessoal deve nos ensinar que estamos expostos a todo tipo de mal. Contudo, apesar das duras evidências da realidade desse dia temível, percebemos que poucos se preparam. Evidentemente, é mais cômodo adiar qualquer decisão, ou esconder-se atrás de formas de mentiras, tais como: este dia não existe, é só para nos amedrontar; talvez este dia possa chegar, mas é reservado somente para os idosos, eu ainda sou muito jovem, não vou me preocupar com estes assuntos por enquanto; este dia mau é o castigo de Deus para pecadores, mas eu sou crente, protegido contra tais adversidades, por isso não preciso me incomodar com tais coisas negativas.

O que devemos fazer para estarmos devidamente preparados? É necessário desembaraçar-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, e firmarmos todas as nossas esperanças em Jesus Cristo, porque Ele é a armadura de Deus (Hb. 12.1-2). “Mas revesti-vos do Senhor Jesus, e nada disponhais para a carne, no tocante às suas concupiscências” (Rm. 13.14).

Texto extraído do livro “Vasos de honra e de desonra – Lições Práticas para Assuntos Polêmicos – Ver. Ivan G. G. Ross, Dataromel Publicações.