"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."

Agostinho de Hipona



sexta-feira, 30 de julho de 2010

Zelo sem perder o amor

Por Maurício Jordão

“Lembraram-se os discípulos de que está escrito,: O zelo da tua casa me consumirá” (Jô 2.17; cf. Sl 69.9)

Não há nada inerentemente errado com o zelo. Lembrem-se de que o próprio Jesus Cristo fez um chicote e livrou o templo de seus comerciantes. E quando isso aconteceu, deu-se o que está escrito no texto em epígrafe. Alguns atos de Jesus nos ajudam a alimentarmos esse zelo, como quando o Senhor repreendeu os líderes judeus, quando amaldiçoou as cidades de Corazim e Betsaida e quando confrontou e destruiu poderes demoníacos. O zelo é uma virtude quando é, verdadeiramente, zelo pela justiça.

No entanto, por vezes o zelo fica aquém da justiça. O zelo sem sabedoria é perigoso. O zelo misturado à insensibilidade é cruel. Sempre que transforma-se em cólera desenfreada, pode ser mortal. E em certas ocasiões nos deixamos dominar por tal zelo mal empregado. 

Os Apóstolos Tiago e João ficaram conhecidos com Filhos do Trovão. Certa feita, Jesus estava se preparando para passar por Samaria. Dirigia-se a Jerusalém para última páscoa. Para tanto, “...enviou mensageiros que o antecedessem. Indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos para lhe preparar pousada. Mas não o receberam, porque o aspecto dele era de quem, decisivamente, ia para Jerusalém” (Lucas 51-53). Os samaritanos não apenas odiavam os judeus, como também odiavam o culto que se realizava em Jerusalém.

O problema não era a falta de espaço para eles na hospedaria; o problema era a falta de hospitalidade intencional dos samaritanos. Jesus jamais havia demonstrado outra coisa senão boa vontade para com os samaritanos. Ele havia curado um samaritano de sua lepra e elogiado esse homem por sua gratidão (Lc 17.16). Ele havia aceitado água de uma mulher samaritana e dado a ela água viva (Jo 4.7-29). Ele ficou dois dias na vila, evangelizando os vizinhos dela. Ele havia transformado um samaritano em herói numa de suas parábolas mais conhecidas (Lc 10.30-37). Mais tarde iria ordenar aos discípulos que pregassem o evangelho em Samaria (At 1.8). Jesus sempre usara de boa vontade para com os Samaritanos.

No entanto, eles o estavam tratando com desprezo propositado. Fato que levou Tiago e João, os Filhos do Trovão, encherem-se imediatamente da mais intensa cólera na tentativa de retificar a situação e disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu par os consumir?” (Lc 9.54). Eles conheciam o Antigo Testamento e se reportaram ao que Elias havia feito. Durante o reinado de Acabe, no tempo de Elias, Samaria havia se transformado num centro de adoração a Baal (1 Reis 16.32 e 2 Reis 1.3-12).

Aquela não era a reação correta para Tiago e João. Sua motivação era errada. Ouve-se um tom de arrogância na maneira como fizeram a pergunta em questão “Senhor. Queres que [nós] mandemos descer fogo do céu para os  consumir?” Eles não tinham definitivamente poder para isso. Cristo era o único com tal poder e se fosse o caso, Ele mesmo o teria feito. Tiago e João estavam, com efeito, pedindo a Jesus que os capacitasse a fazer aquilo que Ele próprio não faria. Além disso, a missão de Jesus era diferente da missão de Elias, Cristo veio para salvar e não para destruir.          

É evidente que não devemos dar sempre uma abordagem puramente pacífica para todos os conflitos. Elias fez o que fez para a glória de Deus e com Sua permissão categórica. Aquele momento exigia medidas extremas de julgamento. O zelo de defender a honra de Cristo certamente é uma grande virtude. Às vezes é muito melhor acalorar-se com uma ira zelosa do que sentar-se passivamente e suportar insultos contra Cristo.

Mas graças a Deus que: “As suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras” (Sl 145.9). Ele é “compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade” (Ex 34.6). O exemplo de Jesus ensinou a Tiago e a João que a bondade amorosa e a misericórdia são virtudes a serem cultivadas tanto quanto (e às vezes mais do que) a justa indignação e zelo fervoroso. Observe o que aconteceu. Em vez de pedir fogo do céu, “Seguiram para outra aldeia” (Lc 9.56). Simplesmente encontraram acomodações em outro lugar. Talvez tenha sido um pouco inconveniente, mas naquelas circunstâncias foi melhor e mais apropriado de que a retificação proposta por Tiago e João pela falta de hospitalidade dos samaritanos.

O amor é a maior das virtudes; como disse o Apóstolo Paulo, “sem amor eu nada seria”. Busquemos soluções pacíficas para todas as situações adversas, sem, contudo relativizar o conteúdo da Palavra de Deus e Seus estatutos. Pois,   “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo seu propósito” (Rm 8.28). Devermos clamar pela sabedoria de Deus na tribulação. “Deus é refúgio e socorro nos dias de angústia”. Ele é a causa inicial e final de todas as coisas. Que nos acheguemos a Ele com confiança, pois Ele é fiel às suas promessas.     “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.35-39).

Jesus afirmou que “as portas do inferno não prevalecerão contra sua igreja” (Mt 16.18). “Andemos por fé e não por vista”. “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus” (Fl 4.7). Assim como, “Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33), “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8.18).

Parte do texto extraído do Livro Doze Homens Comuns do PR. John MacArthur Jr., Editora Cultura Cristã.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

A Vida é Assim...

Por Charles Spurgeon, na revista Sword and Trowel , da qual foi editor

A vida é assim. Uma bolha de sabão, brilhante, com tons de arco-íris, que delicia os olhos da juventude por um instante e some logo em seguida, para sempre, sem deixar nenhum rastro. Homem, vai arriscar tudo em cima dessa bolha? Seja sábio e busque o que é realmente bom. Como isso não pode ser encontrado debaixo do céu, clame ao Senhor pela Sua graciosa ajuda.

A vida é assim. Uma planta, como a de Jonas, que cresce numa noite e morre na outra. Você fez de suas folhas teu único abrigo? O que fará então quando a planta estiver murcha e o sol quente da ira divina estiver a te castigar? Melhor seria voar até Jesus, que é a sombra de uma grande rocha em terra sedenta!

A vida é assim. Um meteoro em chamas, que queima por um instante, e que logo em seguida se perde na escuridão. Se você está são, irá desejar outra luz, mais duradoura que a do meteoro pode te dar. O Sol da justiça brilha para sempre.

A vida é assim. Como o navio que se move rápido no profundo e logo desaparece na linha do horizonte. Deve ser a tua felicidade tão fugaz como ele? Não anseia por uma alegria mais duradoura?

A vida é assim. Como a águia que se apressa a pegar sua presa,assim passa longe tua existência terrena! Para onde estás a voar? Espírito imortal, a que terras você está ligado? Tu não podes fazer uma pausa, mas podes pensar, e pode ser que o Senhor o faça olhar para o alto.

A vida é assim, uma flecha partindo de um arco, um cervo correndo na planície. Velocidade é encontrada em seu mais alto grau em nossa vida, ninguém pode fugir dela. Ah amigo, você está pronto para o túmulo e o julgamento? em poucos dias você entenderá mais a respeito deles do que agora.
A vida é assim. Uma flor que desabrocha por pouco tempo e depois murcha. Vocês que são jovens, vocês que são alegres, vocês que são orgulhosos, são tão tolos ao ponto de acreditarem que sua vida terrena vai durar para sempre? Pense no seu fim, e procure aquele amigo, quem estará com você na vida e na morte, Jesus, Salvador dos pecadores. 
__________________________________________
No. 8.—Sword and Trowel Tracts—6d. per 100, Post free 8 stamps.
Passmore & Alabaster, 23, Paternoster Row.

FONTE: Spurgeon.Org
Tradução Gabriela Brandalise

Projeto Spurgeon

 

sábado, 24 de julho de 2010

O intruso transcendental

C. S. Lewis tem toda razão quando se refere a Jesus como “um intruso transcendental”. De fato, Jesus chocou todo mundo ao se meter onde era chamado e onde não era chamado. 

Foi um intruso ao nascer de uma mulher virgem. Foi um intruso ao ocupar a manjedoura de Belém e a ampla sala do andar superior daquela casa de Jerusalém. Foi um intruso ao tomar emprestado meio compulsoriamente o jumentinho no qual fez a sua entrada triunfal. Foi um intruso ao invadir os domínios de satanás e expulsar os demônios daquele homem de Gerasa. Foi um intruso quando arrancou do Hades a filha de Jairo e o filho da viúva de Naim. Foi um intruso ao violar a sepultura de Lázaro. Foi um intruso quando curou aquela mulher que havia perdido todos os seus bens com os médicos. Foi um intruso quando denunciou a hipocrisia dos mestres da lei e dos fariseus que assentavam na cadeira de Moisés. Jesus foi especialmente intruso quando tomou sobre si os pecados que não eram dele, deixando escancarado para sempre o Santo dos Santos. 

Mas Jesus não foi um intruso vulgar: ele era “um intruso transcendental”, vindo do alto, da parte de Deus, na “plenitude do tempo” (Gl 4.4).

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Um Chamado à Firmeza

Se você estiver empenhado num conflito mortal com um adversário poderoso, astuto, esperto, deve estar alerta para não cair, para não deslizar e escorregar, certificando-se de que os seus pés estão bem calçados. Isso é importante em todas as espécies de conflito físico; e é ainda mais importante na esfera espiritual. Você precisa estar bem seguro de que sabe o que está fazendo e onde está se firmando. É preciso que se cuide para não ver, de repente, tudo fugir de debaixo dos seus pés porque esses não têm como se firmar bem.

Isso quer dizer que você deve ser resoluto; que você tem de resolver ser "um bom soldado de Jesus Cristo", venha o que vier. Você tem que resolver apegar-se a este evangelho, não importa que hostes de inimigos estejam armados contra você. Você tem que ter firmeza. Não deve entrar na vida cristã e continuar nela com coração dividido, estando meio dentro, meio fora, desejando benefícios mas se opondo a deveres, querendo privilégios porém rejeitando responsabilidades. Para começar, você tem que ser firme, sólido, resoluto e confiante. A menção que Paulo faz das sandálias traz essa noção. Se você quer "estar firme", assegure-se de que pode e quer "estar firme". Não se precipite, por assim dizer, com os pés descalços, mas calce as sandálias guarnecidas de tachões. Preste atenção nesse requisito.

O apóstolo ensina a mesma verdade em 1 Coríntios, capítulo 16, na ordem: "Estai firmes na fé"! (versículo 13). Quando olho para a Igreja hoje, vejo muitos cujos pés não estão calçados com a preparação do evangelho da paz. Eu os vejo escorregando e deslizando - evangélicos, bem como outros! Os homens não são mais firmes, não são mais resolutos, não sabem mais no que crêem, e não se apegam ao que crêem venha o que vier. As concessões são muito comuns. Seja agradável, seja bom, seja afável, são as máximas atuais. Muitos protestantes parecem estar prontos para voltar para Roma a qualquer momento! É porque não têm os pés calçados com o equipamento do evangelho da paz. Eles estão deslizando, escorregando, oscilando e mudando, sem saber onde estão, e nesse meio tempo o diabo se regozija. Isso é aplicável tanto a igrejas como a indivíduos.
 
Vocês sabem em que crer? Existe algo pelo que vocês estão prontos para "estar firmes"? Não me desculpo por fazer tais perguntas. Parece¬-me que hoje as pessoas estão prontas para fazer concessões em todas as coisas. Porventura vocês crêem realmente que a Bíblia é a Palavra de Deus, divina e singularmente inspirada, e inerrante? Vocês estão prontos para ficar firmes nessa verdade? É isso que significa pôr as sandálias.

Vocês estão prontos para permanecer firmes em prol da deidade de Cristo? Do Seu nascimento virginal? Dos milagres? Vocês estão prontos para permanecer firmes em prol da morte expiatória, sacrificial, substitutiva do nosso Senhor? Vocês estão prontos para permanecer firmes em prol da ressurreição de Cristo como um fato literal, físico? Vocês estão prontos para permanecer firmes em prol da Pessoa do Espírito Santo? Sabem onde querem estar firmes, conhecem a sua posição? Como poderão combater o inimigo, se não conhecem a sua posição? Ás vezes penso que a leitura sobre as artes bélicas deveria ser obrigatória, que deveríamos ler sobre os grandes comandantes de exércitos como Alexandre, Cromwell, Napoleão e outros. Eles sempre escolhiam o seu lugar e a sua posição; sabiam onde iam estar firmes. E nós não devemos deixar a decisão com o inimigo: Tome a sua posição e diga: "Aqui estou firme!" Tome posição com Martinho Lutero, que não se perturbou com o fato de que tinha contra si doze séculos de catolicismo romano e de tradição. "Aqui estou firme; não posso fazer outra coisa, disse ele; e nós também temos que aprender a estar firmes. Temos de saber o que cremos, ser resolutos e estar determinados a permanecer firmes por isso, venha o que vier.

Vocês têm uma posição definida? Estão dispostos a permanecer firmes nela, e a dizer: "Nunca me renderei, nunca sairei daqui"? No momento em que vocês começarem a ceder quanto à Palavra de Deus, Iogo estarão escorregando e deslizando, tanto na doutrina como na prática. Alguns estão constantemente se contradizendo; elogiam os protestantes e os pais não conformistas na primeira metade do seu discurso ou artigo; depois os criticam na segunda metade. Isso não é "ficar firme"; é escorregar. Eles não sabem onde estão, e ninguém sabe.

Como o apóstolo Paulo diz em 2 Coríntios 1:19, o evangelho de Cristo não é sim e não ao mesmo tempo. Essa é a verdade quanto à política, quanto ao eclesiasticismo, quanto ao "mundo"; contudo não é verdade quanto a Cristo. O evangelho do Filho de Deus, Jesus Cristo, nunca é "sim e não". O ensino de Paulo não concorda com o credo atual - "dialética" lhe chamam - que ensina "sim e não" ao mesmo tempo. No entanto, diz Paulo, o evangelho não é "sim e não", mas "nele (em Cristo) houve sim. Porque todas quantas promessas há em Deus, são nele sim, e por ele o amém, para glória de Deus por nós". E isso significa, segundo alguns intérpretes, que eu e vocês devemos somar o nosso Amém ao Seu Amém, ao Seu grande sim. Permaneçam firmes nisso, custe o que custar.

A nossa firmeza, porém, não se aplica somente à doutrina; aplica-se à totalidade da vida. Uma vez que você entrou nesta vida, tem que tomar a sua posição e permanecer firme, sem vacilar, do lado do Senhor. Quando você se encontrar com os seus velhos amigos do mundo, e eles propuserem a você que continue fazendo o que costumava fazer com eles, você sabe que não pode, e recusará fazê-lo. Permaneça firme resolutamente. Não escorregue para o lado deles. Não! Você tem os seus pés calçados com a prontidão do evangelho da paz. Uma vez que você entrou nesta vida e percebeu que ela é inteiramente diferente da sua vida anterior, você deve dizer: "Aqui estou firme!" Alguém de quem você gosta muito poderá tentá-lo, todavia você terá que dizer: "Não posso trair o meu Senhor; comprometi-me em obedecer aos Seus mandamentos. Os meus pés estão calçados, não estou vacilando". Não fomos destinados a portar-nos ridiculamente, é claro; mas a permanecer firmes nos princípios, e a aplicar esses princípios. Isto se aplica intelectual e doutrinariamente, e à conduta e ao comportamento. Aplica-se a todos os departamentos da vida.

Os seus pés estão calçados? Essa é a grande necessidade desta hora; é o chamado de Deus, creio eu, à Igreja e a todo cristão no presente. Deus está à procura dos que permanecerão firmes! Acredito que Ele está dizendo nos dias atuais o que fez nos dias de Gideão. As "hostes de Midiã" tinham subido, e um grande exército de 32.000 foi reunido por Israel. Dos 32.000 houve somente 300 em que Deus pôde confiar. Ele sabia que estes permaneceriam firmes, que nunca desistiriam, que nunca cederiam. Por isso Ele despachou os restantes, e com os poucos 300, o remanescente, Ele derrotou e desbaratou as hostes de Midiã. Deus sempre realizou as Suas maiores obras com um remanescente. Livre-se da idéia de números. O que Deus quer é um homem ou uma mulher que esteja em prontidão para "ficar firme", cujos pés estejam "calçados com o equipamento do evangelho da paz". Ele sabe que pode confiar em tais pessoas; sabe que elas permanecerão firmes, não importa o que aconteça com elas e em torno delas.

Você está firme? Está disposto a permanecer firme? Está pronto para ficar firme? Você entrou de fato na vida cristã, ou está com um pé no mundo e um pé na Igreja? Qual será a situação? "Não podeis servir a Deus e a Mamom." Talvez você pense que pode; logo verá que não pode. Será derrotado, e se sentirá miseravelmente mal e, quando enfrentar a Deus no juízo, você terá vergonha de si mesmo. Tenha os seus pés calçados com a prontidão, com a firmeza, com o equipamento do evangelho da paz. "Firmes!" "Vós, que sois homens, agora servi ao Senhor."

Fonte: O Soldado Cristão - D.M.Lloyd-Jones - Editora PES - p. 249


sábado, 17 de julho de 2010

Santificação, a condição para as maravilhas divinas

O povo de Israel estava no limiar da terra prometida. As agruras do deserto haviam ficado para trás. Agora, era hora de cruzar o Jordão e tomar posse da terra prometida. Mas, havia condições a serem observadas. Josué diz ao povo: “Santificai-vos, porque amanhã o Senhor fará maravilhas no meio de vós” (Js 3.5). Destacamos à luz desse verso cinco verdades importantes:
1. A santificação é uma ordem expressa de Deus. A ordem de Deus é meridianamente clara: “Santificai-vos”. Sem santificação ninguém pode ver a Deus. Sem santificação não existe comunhão com Deus, pois Deus é luz e só os puros de coração poderão vê-lo face a face. Deus nos chamou do pecado para a santidade. Ele nos salvou do pecado e não no pecado. Aqueles que são de Deus apartam-se do pecado e deleitam-se na santidade. O povo de Deus é um povo santo chamado para a santidade. Somos santos posicionalmente, mas devemos nos santificar processualmente. O mesmo Deus que trabalhou por nós na redenção, trabalha em nós na santificação.
2. A santificação é uma condição para as maravilhas de Deus. “Santificai-vos, porque amanhã o Senhor fará maravilhas no meio de vós”. Nós somos as nossas próprias ferramentas. Deus utiliza, não grandes talentos, mas vasos limpos. Deus usa homens e mulheres que buscam a santidade. A vitória de Israel sobre seus inimigos não seria resultado de seus esforços humanos, mas da intervenção divina. As maravilhas divinas deveriam ser precedidas pela santificação do seu povo. É a santidade que abre caminho para as maravilhas divinas. Se queremos ver as manifestações portentosas de Deus em nós e através de nós, deveremos, então, santificar nossa vida. O pecado nos afasta de Deus e atrai sobre nós vergonha e opróbrio, mas a santificação é o caminho da comunhão e da honra.
3. A santicação é uma exigência para todo o povo de Deus. Josué é enfático: “Santificai-vos”. A ordem divina era para os sacerdotes, para os levitas, para os homens, mulheres e crianças. Todo o povo de Deus deve ser santo. Todos precisam buscar a santificação como o seu maior tesouro. Devemos desejar Deus mais do que suas bênçãos. Devemos buscar a semelhança com Cristo mais do que o sucesso. Devemos querer Deus mais do que as maravilhas divinas. A medida que cuidamos da causa, a santificação, experimentamos o resultado, as maravilhas de Deus.
4. A santificação é uma exigência para ser observada hoje. Se Deus vai fazer maravilhas amanhã e se a condição indispensável para essas maravilhas é a santificação do povo, então, devemos nos santificar hoje. Não podemos adiar essa ordenança divina. A santificação é para hoje e não apenas para a eternidade. Na eternidade seremos glorificados. Mas, aqui começa o processo da santificação. Hoje é o dia de nos consagrarmos a Deus. Agora é o tempo de colocarmos tudo sobre o altar e voltarmo-nos para o Senhor de todo o nosso coração.
5. A santificação torna o povo de Deus o receptáculo das maravilhas divinas. Quando o povo de Deus se santifica, Deus opera maravilhas em seu meio. As maravilhas divinas não são feitas apenas por nós, mas, sobretudo, em nós. Somos o receptáculo dessas maravilhas e em seguida, os instrumentos por meio dos quais essas bênçãos fluem para o mundo. Somos abençoados para sermos abençoadores. Pela santificação tornamo-nos imitadores de Deus e canais das bênçãos de Deus para o mundo inteiro.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Salvação: Um Resgate Necessário

por Vincent Cheung

 "Deus… nos salvou e nos chamou com uma santa vocação…" (2 Timóteo 1.9)
 
“Deus nos salvou e nos chamou com uma santa vocação” – que declaração sucinta e apropriada sobre o que significa ser cristão. A ideia de salvação é essencial. Alguns cristãos têm usado palavras como “salvo” e “salvação” com tanta frequência e descuido que esqueceram o que elas significam. Elas tornaram-se sons sem significado. Ou, se possuem algum significado, as palavras foram tão diluídas que “Você foi salvo?” é agora equivalente de “Você se inscreveu no torneio de golfe?”. É algo que é importante, mas ainda assim casual, sujeito à reflexão relaxada.

Salvação é uma palavra séria. Ela pressupõe perigo e desespero. Você não diz brandamente a um homem que se afoga, “Ei, por que você não sai da água?” ou “Você se importaria em se unir conosco para jantar, e termos um momento de comunhão?”. Não, salvação é resgate. Ela implica necessidade. Você precisa dessa salvação. Ela não é algo indiferente ou uma questão de preferência. Significa que uma pessoa permanecerá numa condição negativa ou sofrerá alguma consequência negativa se não for retirada da sua presente situação. Em nosso contexto, essa condição negativa é a culpa do homem perante Deus – isto é, não somente uma consciência culpada por ter feito algo errado, mas um veredito de culpado por estar errado e ter praticado o erro. A consequência negativa é a ira de Deus, que o homem sofrerá alienação e rejeição de Deus nesta vida, e o fogo sem fim do inferno na vida porvir. Deus salva algumas pessoas desse lugar, e as coloca numa esfera completamente diferente.

Em adição, a ideia de salvação dá crédito àquele que realiza o resgate; não àquele que foi resgatado. Assim, perguntar a alguém “Você foi salvo?” deveria ter uma conotação inteiramente diferente de “Você se filiou à igreja?”. Não é se você fez algo, mas se Deus fez algo por você e para você a fim de salvá-lo. Essa salvação que precisamos e que é realizada por Deus sempre caracteriza nosso relacionamento com Ele, e deve permanecer na vanguarda da nossa teologia e pregação.

Ser salvo no sentido bíblico é ser resgatado de algo terrível e repulsivo – viver como um não cristão. Deus extraí algumas pessoas da vida não cristã e instá-las, não numa condição neutra ou numa mera imunidade da condenação, mas numa vida e destino superior. Não somos salvos por uma vida santa, mas chamados a uma vida santa. Dessa forma, os cristãos não são como os não cristãos, embora livres da condenação. Nós somos diferentes. Se somos cristãos verdadeiros e em crescimento, então somos um povo santo, um povo de discernimento e conhecimento, de amor e bondade, de fé e poder, e de verdade inflexível. Esse é um aspecto integral da nossa salvação, que Deus não somente nos salvou de algo, mas também nos chamou para algo. Um ministério do evangelho completo deve ensinar todas as ações e bençãos de Deus na salvação.

Como cristãos, estamos familiarizados com a ideia que é Cristo quem adquiriu a salvação por nós mediante sua morte na cruz. Ele agiu em nosso favor, como nosso campeão e representante. E morreu em nosso lugar por nossos pecados, para que pudéssemos ser livres da condenação. Então, ele foi vindicado por sua ressurreição, e assegurou para nós a justificação perante Deus. Todavia, somente aqueles que estão ligados a ele são salvos por ele, e esse vínculo ou relação com Cristo é manifesto em fé. A Escritura define essa fé em termos definidos e inflexíveis. Ter fé em Cristo é crer que ele morreu por meus pecados – não apenas por causa dos meus pecados, mas para pagar pelos meus pecados. Eu manifesto ser um cristão somente se tiver fé nesse sentido específico. Todos os cristãos concordam com isso, e aqueles que discordam não são cristãos. Eles não são salvos – permanecem debaixo do pecado e da condenação, e seu destino é o fogo eterno do inferno.

Fonte: Reflections on Second Timothy
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto, julho/2010

domingo, 11 de julho de 2010

Cheio do Espírito Santo?

“Não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito”.
Ef 5.18


Nem todo crente selado pelo Espírito Santo e habitado pelo Espírito, está cheio do Espírito. Todo salvo tem o Espírito Santo, mas nem todos estão cheios do Espírito Santo. Uma coisa é possuir o Espírito Santo, outra coisa completamente diferente é ser possuído pelo Espírito Santo. Uma cousa é ter o Espírito Santo residente, outra coisa é ter o Espírito Santo presidente. Há crentes que nunca experimentaram o enchimento do Espírito.

O Espírito deve penetrar e possuir todo o nosso ser e nos controlar com toda a sua soberania. Não podemos viver vitoriosamente sobre o pecado nem realizar a obra de Deus com eficácia sem a capacitação do Espírito. Precisamos da plenitude do Espírito e do revestimento do seu poder.

O Espírito que recebemos é o Espírito de poder. O Reino de Deus que está dentro de nós, não consiste de palavras, mas de poder. Toda suprema grandeza do poder de Deus, o mesmo poder que ressuscitou Jesus dentre os mortos, está à nossa disposição!

Ore


Senhor, reveste-me com o poder transformador do teu Espírito Santo. Eu quero mais de ti em minha vida. Preciso experimentar a plenitude do que tens para mim. Em Cristo. Amém.

Pense


Não se contente com migalhas se Deus tem fartos banquetes para te oferecer.


Cada Dia

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A Alegria da Vida em Cristo

Estamos vivendo um dos momentos mais desafiadores da fé cristã. O mundo é um mundo triste e sem esperança. As famílias se esfacelam. A violência cresce. Os jovens se organizam em “gangs” para destruir uns aos outros, ou se matam por falta de sentido na vida. Os cristãos não se entendem e se tornam impotentes para exercer uma influência restauradora no mundo aonde fomos enviados. O amor esfria e a alegria se desvanece.

Perdemos, como cristãos, a cada dia, a sensibilidade e o entusiasmo para ser solidários com aqueles que sofrem. As catástrofes se multiplicam e as pessoas se sentem abandonadas. Aqui e ali algum esforço de ajuda que alcança uns poucos.

O Apóstolo Paulo em II Co 8.4 declara que os cristãos da Macedônia, passando por tremendas privações, diante das gritantes necessidades dos irmãos da Judéia, se manifestaram “pedindo, com muitos rogos, a graça de participar da assistência aos santos”.

Temos perdido a capacidade de nos “alegrar com os que se alegram e de chorar com os que choram” e, como consequência, não temos sido solidários com os que sofrem, compartindo com eles um pouco do muito que o Senhor nos tem dado. A insensibilidade vai ocupando o nosso coração de tal maneira, que não sobra espaço para o amor – a versão prática da fé cristã.

Perder a alegria de crer e de amar Jesus, perder o dom da alegria verdadeira que provém do gesto de dar a quem necessita é perder o sentido da vida cristã.

Paulo ensina aos crentes da Galácia que o fruto do Espírito começa com amor, paz e alegria. Claro que é a alegria da comunhão com Deus, é a alegria de ter o poder do Espírito no coração, mas é também a alegria de viver em amor e em paz com os irmãos na fé, completada com a alegria de minorar a dor do aflito pelo gesto de dar e de doar-se como fizeram os macedônios no passado.

 “Deus ama a quem dá com alegria” (II Co 9.7). Era a experiência pessoal de Paulo, quando compartilhava com os companheiros de prisão as ofertas recebidas das igrejas, em especial, dos filipenses a quem ele agradecia de coração (Fp 4.10).

Creio que Paulo estava impactado com o amor e a alegria dos macedônios, pois ele escreve aos coríntios dizendo que “os irmãos dali tem sido muito provados pelas aflições por que têm passado. Mas a alegria deles foi tanta que, embora sendo muito pobres, eles deram ofertas com grande generosidade" (II Co 8.2 – NTLH).

O egoísmo avilta, o altruísmo enobrece. Não deixe morrer a sensibilidade no coração diante das aflições do outro. Não perca o privilégio de ser um agente da alegria no coração do próximo. Não perca a oportunidade de ser feliz, voltando-se para aquele que está infeliz.

Faça como os macedônios. Peça, com insistência a graça de participar da assistência aos que sofrem. E, assim, você experimentará uma alegria tão grande que só poderá ser superada no céu.


sábado, 3 de julho de 2010

Deus nosso Salvador

Por João Calvino

Portanto, exorto, antes de tudo, que se usem súplicas, orações, intercessões, ações de graças em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se encontram em posição de destaque, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito. Isso é bom e aceitável aos olhos de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.(1Tm 2.1-4)

1. Portanto, exorto, antes de tudo. Os exercícios religiosos que o apóstolo aqui ordena mantêm e fortalecem em nós o culto sincero e o temor de Deus, bem como nutrem a consciência íntegra de que falamos anteriormente. O termo, portanto, é então perfeitamente apropriado, visto que essas exortações se deduzem naturalmente do encargo que ele pusera sobre Timóteo.

Primeiramente, ele trata da oração pública e de sua regulamentação, a saber: que ela deve ser feita não só em favor dos crentes, mas em favor de todo o gênero humano. É possível que alguém argumente: “Por que devemos preocupar-nos com o bem-estar dos incrédulos, já que não mantêm nenhuma relação conosco? Não é suficiente que nós, que somos irmãos, oremos uns pelos outros e encomendemos a Deus toda a Igreja? Os estranhos não significam nada para nós”. Paulo se põe contra essa perversa perspectiva, e diz aos efésios que incluíssem em suas orações todos os homens, e não as restringissem somente ao corpo da Igreja.

Admito que não entendo plenamente a diferença entre os três ou quatro tipos de oração de que Paulo faz menção. É pueril a opinião expressa por Agostinho, a qual torce as palavras de Paulo para adequarem-se ao uso cerimonial de sua própria época. O ponto de vista mais simples é preferível, a saber: que súplicas são solicitações para sermos libertados do mal; orações são solicitações por algo que nos seja proveitoso; e intercessões são nossos lamentos postos diante de Deus em razão das injúrias que temos suportado. Eu mesmo, contudo, não entro em distinções sutis desse gênero; ao contrário, deduzo um tipo diferente de distinção. Proseucai [Proseuche] é o termo grego geral para todo e qualquer tipo de oração; e deh>seiv [deeseis] denota essas formas de oração nas quais se faz alguma solicitação específica. Portanto, essas duas palavras se relacionam como o gênero e a espécie. v´Enteu>xeiv [Enteuxeois] é o termo usual de Paulo para as orações que oferecemos em favor uns dos outros, e o termo usado em latim é intercessiones, intercessões. Platão, contudo, em seu segundo diálogo intitulado, Albibíades, usa a palavra de forma diferenciada para denotar uma petição definida, expressa por uma pessoa em seu próprio favor. Em cada inscrição do livro, bem como em muitas passagens, ele mostra claramente que proseuch [proseuche] é, como eu já disse, um termo geral.

Todavia, para não nos determos desproporcionalmente por mais tempo numa questão que não é de grande relevância, Paulo, em minha opinião, está simplesmente dizendo que sempre que as orações públicas foram oferecidas, as petições e súplicas devem ser formuladas em favor de todos os homens, mesmo daqueles que presentemente não mantêm nenhum relacionamento conosco. O amontoado de termos não é supérfluo; pois ao meu ver Paulo, intencionalmente, junta esses três termos com o mesmo propósito, ou seja, com o fim de recomendar, com o maior empenho possível, e pedir com a máxima veemência, que se façam orações intensas e constantes.

Sobre o significado de ações de graças não há nada de obscuro, pois ele não só nos incita a orar a Deus pela salvação dos incrédulos, mas também a render graças por sua prosperidade e bem-estar. A portentosa benevolência que Deus nos demonstra dia a dia, ao fazer “seu sol nascer sobre bons e maus”, é digna de todo o nosso louvor; e o amor devido ao nosso próximo deve estender-se aos que dele são indignos.

2. Em favor dos reis. Ele faz expressa menção dos reis e de outros magistrados porque os cristãos têm muito mais razão de odiá-los do que todos os demais. Todos os magistrados daquele tempo eram ajuramentados inimigos de Cristo, de modo que se poderia concluir que eles não deviam orar em favor de pessoas que viviam devotando toda a sua energia e riquezas em oposição ao reino de Cristo, enquanto que, para os cristãos, a extensão desse reino, e de todas as coisas, é a mais desejável. O apóstolo resolve essa dificuldade e expressamente ordena que orações sejam oferecidas em favor deles. A depravação humana não é razão para não se ter em alto apreço as instituições divinas no mundo. Portanto, visto que Deus designou magistrados e príncipes para a preservação do gênero humano, e por mais que fracassem na execução da designação divina, não devemos, por tal motivo, cessar de ter prazer naquilo que pertence a Deus e desejar que seja preservado. Eis a razão por que os crentes, em qualquer país em que vivam, devem não só obedecer às leis e ao comando dos magistrados, mas também, em suas orações, devem defender seu bem-estar diante de Deus. Disse Jeremias aos israelitas: “Orai pela paz de Babilônia, porque, em sua paz, tereis paz” [Jeremias 29:7). Eis o ensino universal da Escritura: que aspiremos o estado contínuo e pacífico das autoridades deste mundo, pois elas foram ordenadas por Deus.

Para que vivamos vida tranqüila e mansa. Ele acrescenta mais uma persuasão, ao mostrar como isso será proveitoso a nós próprios e ao enumerar as vantagens geradas por um governo bem regulamentado. A primeira é uma vida tranqüila, porquanto os magistrados se encontram bem armados com espada para a manutenção da paz. A menos que restrinjam o atrevimento dos homens perversos, o mundo inteiro se encherá de ladrões e assassinos. Portanto, a forma correta de conservar a paz consiste em que a cada pessoa seja dado o que é propriamente seu, e que a violência dos poderosos seja refreada. A segunda vantagem consiste na preservação da piedade, ou seja, quando os magistrados se diligenciam em promover a religião, em manter o culto divino e requerer reverência pelas coisas sacras. A terceira vantagem consiste na preocupação pela seriedade pública: pois o benefício advindo dos magistrados consiste em que impeçam os homens de se entregarem a impurezas bestiais ou a vergonha devassidão, bem como a preservar a modéstia e a moderação. Se esses três requisitos foram suprimidos, que gênero de vida será deixado à sociedade humana? Portanto, se porventura nos preocupamos com a tranqüilidade pública, com a piedade ou com a decência, lembremo-nos de que o nosso dever é diligenciarmo-nos em favor daqueles por cuja instrumentalidade obtemos tão relevantes benefícios.

Disso concluímos que os fanáticos que lutam pela supressão dos magistrados são privados de toda humanidade e promovem unicamente o barbarismo impiedoso. Que grande diferença há entre Paulo que declara que, por amor à preservação da justiça e da decência, bem como da promoção da religião, devemos orar em favor dos reis, e aqueles que dizem que não só o poder real, mas também todo e qualquer governo, são contrários à religião. O que Paulo afirma tem o Espírito Santo como Autor; conseqüentemente, o conceito dos fanáticos não tem outro autor senão o diabo.

Se porventura suscitar-se a pergunta se devemos ou não orar em favor dos reis de cujo governo não recebemos tais benefícios, minha resposta é que devemos orar por eles, sim, para que, sob as diretrizes do Espírito Santo, comecem a conceder-nos essas bênçãos, com as quais até agora não foram capazes de prover-nos. Portanto, devemos não só orar por aqueles que já são dignos, mas também pedir a Deus que converta os maus em bons governantes. Devemos manter sempre este princípio: que os magistrados são designados por Deus para a proteção da religião, da paz e da decência públicas, precisamente como a terra foi ordenada para produzir o alimento. Por conseguinte, quando oramos pelo pão de cada dia, pedimos a Deus que faça a terra fértil, ministrando-lhe sua bênção, assim devemos considerar os magistrados como meios ordinários que Deus, em Sua providência, ordenou para conceder-nos as demais bênçãos. A isso deve-se acrescentar que, se somos privados daquelas bênçãos que Paulo atribui como dever dos magistrados no-las fornecer, a culpa é nossa. É a ira de Deus que faz com que os magistrados sejam inúteis, da mesma forma que faz com que a terra seja estéril. Portanto, devemos orar pela remoção dos castigos que nos sobrevêm em virtude de nossos pecados.

Em contrapartida, os magistrados e todos quantos desempenham algum ofício na magistratura são aqui lembrados de seu dever. Não basta que restrinjam a injustiça, dando a cada um o que é devidamente seu, e mantenham a paz, se não são igualmente zelosos em promover a religião e em regulamentar os costumes pelo uso de uma disciplina construtiva. A exortação de Davi, para que [os magistrados] “beijem o Filho” [Salmo 2:12, e a profecia de Isaías, para que sejam pais da Igreja, é de grande relevância. Portanto, não terão motivo para se congratularem, caso negligenciem sua assistência na manutenção do culto divino.

3. Isso é bom e aceitável. Havendo demonstrado que o mandamento que ele promulgara é excelente, agora apela para um argumento mais enérgico, a saber: que é agradável a Deus. Pois quando sabemos que essa é a vontade, cumpri-la é a melhor que todas as demais razões. Pelo termo, “bom”, ele tem em mente o que é certo e lícito; e, visto que a vontade de Deus é a regra pela qual devemos regulamentar todos os nossos deveres, ele prova que ela é justa, porque é aceitável a Deus.

Esta passagem merece detida atenção, pois dela podemos extrair o princípio geral de que a única norma genuína para agir bem e com propriedade é acatar a e esperar na vontade de Deus, e não empreender nada senão aquilo que ele aprova. E essa é também a regra da oração piedosa, a saber: que tomemos a Deus por nosso Líder, de modo que todas as nossas orações sejam regulamentadas por Sua vontade e comando. Se essa regra não houvera sido suprimida, as orações dos papistas, hoje, não seriam tão saturadas de corrupções. Pois, como poderão provar que detêm a autoridade divina para se dedicarem à intercessão dos santos falecidos, ou eles mesmos praticarem a intercessão em favor dos mortos? Em suma, em toda a sua forma de orar, o que poderão apresentar que seja do agrado de Deus?

4. Daqui se deduz uma confirmação do segundo argumento, o fato de que Deus deseja que todos os homens sejam salvos. Pois, que seria mais razoável do que todas as nossas orações se conformarem a este decreto divino? Concluindo, ele demonstra que Deus tem no coração a salvação de todos os homens, porquanto Ele chama a todos os homens para o conhecimento de Sua verdade. Este é um argumento que parte de um efeito observado em direção à sua causa. Pois se “o evangelho é o poder de Deus par a salvação de todo aquele que crê [Romanos 1:16], então é justo que todos aqueles a quem o evangelho é proclamado sejam convidados a nutrir a esperança da vida eterna. Em suma, visto que a vocação [do evangelho] é uma prova concreta da eleição secreta, então Deus admite à posse da salvação aqueles a quem Ele concedeu a bênção de participarem de Seu evangelho, já que o evangelho nos revela a justiça de Deus que garante o ingresso na vida.

À luz desse fato, fica em evidência a pueril ilusão daqueles que crêem que esta passagem contradiz a predestinação. Argumentam: “Se Deus quer que todos os homens, sem distinção alguma, sejam salvos, então não pode ser verdade que, mediante Seu eterno conselho, alguns hajam sido predestinados para a salvação e outros, para a perdição”. Poderia haver alguma base para tal argumento, se nesta passagem Paulo estivesse preocupado com indivíduos; e mesmo que assim fosse, ainda teríamos uma boa resposta. Porque, ainda que a vontade de Deus não deva ser julgada à luz de Seus decretos secretos, quando Ele no-los revela por meio de sinais externos, contudo não significa que ele não haja determinado secretamente, em Seu íntimo, o que se propõe fazer com cada pessoa individualmente.

Mas não acrescentarei a este tema nada mais, visto o assunto não ser relevante ao presente contexto, pois a intenção do apóstolo, aqui, é simplesmente dizer que nenhuma nação da terra e nenhuma classe social são excluídas da salvação, visto que Deus quer oferecer o evangelho a todos sem exceção. Visto que a pregação do evangelho traz vida, o apóstolo corretamente conclui que Deus considera a todos os homens como sendo igualmente dignos de participar da salvação. Ele, porém, está falando de classes, e não de indivíduos; e sua única preocupação é incluir em seu número príncipes e nações estrangeiros. Que a vontade de Deus é que eles também participem do ensinamento do evangelho é por demais óbvio à luz das passagens já citadas e de outras afins. Não é sem razão que se disse: “Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e as extremidades da terra por tua possessão” [Salmo 2:8]. A intenção de Paulo era mostrar que devemos ter em consideração, não que tipo de homens são os príncipes, mas, antes, o que Deus queria o que fossem. Há um dever de amor que se preocupa com a salvação de todos aqueles a quem Deus estende Seu chamamento e testifica acerca desse amor através de orações piedosas.

É nessa mesma conexão que ele chama Deus nosso Salvador, pois de qual fonte obtemos a salvação senão da imerecida munificência divina? O mesmo Deus que já nos conduziu à Sua salvação pode, ao mesmo tempo, estender a mesma graça também a eles. Aquele que já nos atraiu a si pode uni-los também a nós. O apóstolo considera como um argumento indiscutível o fato de Deus agir assim entre todas as classes e todas as nações, porque isso foi predito pelos profetas.

O Calvinista